//OPINIÃO// Um penteado em troca da vida

(Fotos Públicas)
Carlos Motta

E não é que a Prefeitura de Serra Negra, que ia tão bem na batalha contra o covid-19, acabou jogando fora todo o bom trabalho que vinha fazendo?

A decisão de liberar o funcionamento de salões de beleza e barbearias e afins é um misto de comédia, tragédia e absurdo.

Quem em sã consciência, no meio da mais grave crise sanitária desde não se sabe há quanto tempo, pode considerar um corte de cabelo ou pintar as unhas uma atividade essencial?

Será que nenhum integrante dessa comissão responsável pelo enfrentamento da pandemia na cidade pensou que é impossível evitar a contaminação do cliente ou do profissional se algum deles for portador do vírus?

Será que ninguém foi capaz de perceber que esse novo coronavírus adora circular em cabelos, barbas, unhas e roupas?

Uma medida dessas, no momento em que a pandemia começa a atingir uma gravidade jamais vista na história recente do país, destrói toda a seriedade do trabalho que vinha sendo feito em Serra Negra pelas autoridades locais.

Permitir a abertura desse tipo de serviço, assim como a do comércio e hotelaria, como querem alguns, é a aposta mais certa na vitória por goleada do vírus. 

Para piorar o quadro, vereadores estão forçando e dão como certa a reabertura de estacionamentos, lojas de venda de veículos e feiras livres.

Qual a lógica do argumento dessas pessoas para que se adote tal medida?

Abrir estacionamentos para quem, para a multidão de turistas que Serra Negra está recebendo?

E as lojas de veículos, então? Pelo jeito atualmente há filas de gente querendo trocar de carro. Afinal, o mundo vive dias absolutamente normais, os negócios estão à toda, a família tem de sair de férias...

A necessidade de as feiras livres voltarem a fechar as ruas da cidade é óbvia: como vamos sobreviver sem comer um pastelzinho, encontrar os amigos para um bate-papo?

Não custa repetir pela milésima vez: o único remédio existente contra o covid-19 - e o mundo inteiro sabe disso - é o isolamento social. 

A França sabe disso, a China sabe disso, a Alemanha sabe disso, a Itália sabe disso, a Espanha sabe disso, a Argentina, os Estados Unidos, a Inglaterra, o Japão, toda a comunidade científica mundial sabem disso.

Mas os serranos, não.

Aqui, a palavra de ordem é flexibilizar, fazer igual a outras cidades do interior do Estado que também não resistiram às pressões dos "empresários" - entre aspas, mesmo - e seu raciocínio mórbido de que a atividade econômica se sobrepõe à vida.

Ademais, julgar que os salões de beleza e as barbearias vão ter clientes suficientes para render a receita necessária para a sua manutenção - aluguel, energia elétrica, água... - é desconhecer a mais palpável e cristalina realidade - gente, estamos no meio de uma pandemia, ninguém quer ficar doente, ninguém quer morrer!

Trocar a vida por um penteado...

Que gente é essa?

Que humanidade é essa?

Comentários

  1. Tudo se resume a essa frase: "um misto de comédia, tragédia e absurdo."
    Vidas? Ora, as vidas?

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