//OPINIÃO// Saúde ou economia? Tudo tem a sua hora


Salete Silva

A notícia de que empresas serranas já teriam perdido 70% de seu faturamento deste ano e que o desemprego na cidade teria atingindo duas centenas de trabalhadores foi recebida com ressalvas pelos serranos, revelam comentários de internautas na página do Viva! Serra Negra.

Para uma parte da população esses números são fantasiosos, para outra revelam o impacto real da pandeia na economia da cidade.

O que está por trás desse debate mais uma vez é a necessidade de isolamento social, apontada pelos especialistas e autoridades em saúde e infectologia como a alternativa mais eficiente e segura para evitar os números de mortes, que já bateram em 400 óbitos diários no país.

Há uma pressão de setores da sociedade serrana, como políticos e comerciantes, para que as medidas de restrição de funcionamento do comércio se tornem mais flexíveis antes de 10 de maio, até quando se estende o decreto estadual.

O argumento é o de que o efeito da quarentena pode ser ainda mais perverso na economia do que na saúde.


A discussão ocorre bem no momento em que Serra Negra registra dois casos de covid-19 e a transmissão do vírus já é comunitária.

Essa situação é assim definida quando ocorre a contaminação entre pessoas que não estiveram em países com o registro da doença para outra que também não viajou, acendendo o sinal amarelo de médicos e profissionais da saúde e vigilância sanitária.

Se houver um aumento exponencial de casos, não haverá capacidade hospitalar para atender a demanda.

O registro até agora de apenas dois casos de covid-19, avaliam os especialistas, confirma a eficiência do isolamento social, que na cidade já chega à sua sexta semana.

Agora que o vírus está circulando, no entanto, o que se vê nas ruas é um afrouxamento do isolamento social. Há um fluxo de pessoas visivelmente superior ao das primeiras semanas de quarentena.  

Além disso, a situação da pandemia se agrava em todo país no momento em que há praticamente uma crise institucional, desencadeada com a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça em meio a acusações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que começa a perder apoio popular e é ameaçado de investigação.

Os números apresentados pelo presidente Associação Comercial Industrial e Agrícola de Serra Negra, José Luiz Machado, podem estar inflados ou exagerados. Mas são compatíveis com a tendência registrada em todo o país, incluindo o comércio de Serra Negra, que já registrava desaceleração da economia desde o início do ano.


Estabelecimentos comerciais de municípios da Serra da Mantiqueira, entre os quais Campos do Jordão, por exemplo, deverão acumular prejuízo estimado em R$ 150 milhões, entre 20 de março e 10 de maio, segundo o presidente da Associação de Restaurantes Cozinha da Mantiqueira, Luís Feranndo Peretti.

Entidades representativas dos empresários da região solicitaram, em ofício enviado às autoridades governamentais, a criação de um comitê de crise da Serra da Mantiqueira, além da liberação de subsídios que chamam de “verdadeiro socorro” por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) para evitar a falência das empresas e a reabertura do comércio.  

Esse efeito negativo da pandemia na economia era esperado por empresários e especialistas, muitos dos quais contrários à teorias de intervenção do Estado na economia, mas que agora se veem dependentes da interferência do governo e dos recursos públicos para evitar a falência e amenizar a queda inevitável do PIB brasileiro em mais de 5% em 2020.


Em meio à crise institucional, o governo anuncia um pacote de R$ 30 bilhões em investimentos em infraestrutura, volume de recursos considerado por economistas irrisório tamanha a crise econômica.

Mas a medida não encontra apoio sequer entre integrantes da equipe econômica, que mantêm a mentalidade de austeridade fiscal mesmo em épocas de profunda crise. Aliás esse parece o caso do ministro Paulo Guedes que sequer apareceu no lançamento do programa destinado a reativar a economia.

A população está à deriva, quando deveria estar em casa, em isolamento social para evitar uma catástrofe maior na saúde, com recursos garantidos pelo governo para retomar a economia quando a pandemia permitir a volta gradual do funcionamento do comércio. É isso pelo menos o que está ocorrendo na maior parte do mundo.

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