//OPINIÃO// A hora de ser solidário


Carlos Motta

Na última eleição presidencial Serra Negra deu 82% de seus votos para o candidato Jair Bolsonaro. Se tantos votaram nele é de se supor que concordavam com as suas ideias e seu discurso, e repudiavam o programa de governo de seu adversário, o professor universitário, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad. 

Bolsonaro, hoje, é figura execrada em praticamente o mundo todo pelas suas posições contra minorias, contra o meio ambiente, a favor de ditadores sanguinários etc etc - e mais recentemente, por desafiar a ciência e as recomendações médicas sobre a terrível pandemia do covid-19.

O prefeito de Serra Negra, Sidney Ferraresso (DEM), não foi na onda do Bolsonaro. Preferiu seguir as medidas que o governo do Estado vem tomando em relação à pandemia: fechamento do comércio não essencial, proibição de aglomerações, recomendação para o isolamento social... 

E, assim, ao menos até agora, a população da cidade tem sido poupada dos efeitos cruéis da nova doença. 

Isso não tem impedido, porém, que empresários locais que tiveram de fechar temporariamente seus negócios façam barulho pela sua reabertura. Justificam a pressão com os mesmos argumentos de Bolsonaro - a economia não pode parar, vai morrer mais gente de fome do que do vírus e blá-blá-blá...

Os 82% dos votos serranos a Bolsonaro certamente não se repetiriam hoje. Mesmo assim, a julgar pelo movimento desses empresários, ele ainda deve ter na cidade muitos apoiadores - essa gente que faz parte de grupos de WhatsApp que disseminam notícias falsas, informações distorcidas, boatos e mentiras, estratégia que vem sendo utilizada desde antes da eleição presidencial e foi crucial para a sua vitória.

Mas mesmo para essas pessoas, que vivem num mundo à parte, a realidade, com toda a sua crueza, vai acabar se impondo.



Isso porque será nos próximos dias que a pandemia vai atacar o Brasil com toda a violência que tem sido vista no resto do mundo. 

Primeiro será nas grandes cidades, as metrópoles. Depois o covid-19 vai avançar sobre as cidades médias, chegando, por fim, às pequenas, como as do Circuito das Águas Paulista.

Os eleitores de Bolsonaro, a quase totalidade de Serra Negra, aqueles que votaram nele por compactuar com a sua visão de mundo, expressa no tenebroso gesto da "arminha", terão, em breve, de decidir se continuam com a sua atitude egoísta e insensível, que nega os princípios básicos da civilização, ou se passarão para o lado daqueles que estão, neste momento terrível, procurando auxiliar o seu semelhante, o seu irmão.

Em vez de pedir ajuda aos governos, em vez de pedir sacrifícios por parte de quem já tem uma vida sacrificada, trabalhando em troca de um salário miserável, esses fãs serranos de Bolsonaro deveriam - e isso não é um conselho, mas um grito de socorro - arranjar maneiras de ajudar o poder público nesta dificílima missão de amparar Serra Negra nestes dias de aflição.

Em troca eles ganhariam a chance de, passada a tempestade, poder retomar a vida normal, porque, afinal, a vida existiria, e existindo a vida, tudo é possível.

Até mesmo os corações mais duros baterem no ritmo da fraternidade.

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