//OPINIÃO// A fila da salvação


Salete Silva

As filas de serranos nas portas das agências bancárias e da única lotérica aberta nestes últimos dois dias são a mais clara demonstração da relevância dos programas de geração de renda criados e aperfeiçoados ao longo de décadas.

Esses programas garantem o mínimo necessário à sobrevivência dos brasileiros, em especial dos mais pobres. Os dias 6 e 7 de abril estão no calendário de pagamentos das aposentadorias e demais benefícios dos trabalhadores.

Em épocas de pandemia e de isolamento social esses benefícios significam alguma possibilidade de sobrevivência no país em que a renda per capita da metade de sua população é de apenas R$ 500,00 e em que 50% das crianças, segundo a Unicef, estão abaixo da linha de pobreza.

O que seria dos brasileiros, incluindo os serranos, nesta mais grave pandemia e crise econômica dos últimos 100 anos se não pudessem contar com o Sistema Único de Saúde (SUS), a Previdência Social, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família?

Mais de 180 milhões de brasileiros só têm o SUS como sistema de saúde. Em Serra Negra, 97% dos seus 27 mil habitantes são SUS dependentes.




Se os planos do ministro da Economia, Paulo Guedes, de ampliar a privatização dos serviços de saúde, que contavam com a simpatia do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandeta (DEM), tivessem sido colocados em prática, haveria milhões de brasileiros desassistidos e o número de mortes provavelmente seria muito maior.

O INSS beneficia 30 milhões de pessoas que recebem até R$ 1.300,00. O número de beneficiados pode chegar a 90 milhões de cidadãos se considerar que cada beneficiado tenha, no mínimo, mais dois membros na família.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) beneficia 6 milhões de brasileiros, número que pode chegar também a 18 milhões de pessoas se considerar que cada família tenha, no mínimo, mais dois integrantes.

Este é o momento para a sociedade brasileira repensar a importância da proteção social. O Estado de bem estar social não é gasto nem despesa, como fizeram pensar muitos defensores da austeridade fiscal.

O mais importante são as pessoas, o bem estar social. Talvez por isso a manifestação contra medidas de restrição de funcionamento do comércio em Serra Negra marcada para hoje por alguns afoitos por reabrir as portas das lojas da cidade não tenha tido a adesão que esperavam seus organizadores.

Os brasileiros parecem mais preocupados com a saúde. Em Serra Negra não deve ser diferente. Segundo uma pesquisa, divulgada no início da semana, 76% dos entrevistados por telefone celular avaliam que é mais importante que as pessoas fiquem em casa para evitar a propagação do coronavírus.

Ao governo cabe, neste momento, tornar mais ágil e menos burocrático o sistema para que os recursos financeiros cheguem rapidamente aos mais pobres.

Além disso deve ter como meta ampliar o valor do auxílio de R$ 600 e estender o benefício para pelo menos os cerca de 70 milhões de brasileiros em estado de vulnerabilidade, inscritos no Cadastro Único.

Passada a pandemia, o Brasil terá de enfrentar uma das mais graves crises econômicas sem sequer ter se recuperado da última crise. A proteção social, os programas de geração de renda e as medidas de promoção da distribuição de renda serão condição sine qua non para o sucesso nessa nova era econômica do país.

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