//ESPECIAL// Conectando Serra Negra com a ciência e os fatos


Salete Silva

Assim como todos os serranos convidados pelo Viva! Serra Negra vou apresentar o que acredito que poderá ser minha contribuição como cidadã e jornalista para ajudar a cidade a enfrentar os problemas e as dificuldades decorrentes dessa situação inédita para o município, o país e a humanidade.

Uma das maiores dificuldades que tenho observado nesse enfrentamento é a desconexão da sociedade brasileira com a realidade.

Há uma ideia fantasiosa de que o problema no Brasil é diferente do resto do mundo e que o brasileiro está imune a essas tragédias graças a fatores como a temperatura do país tropical abençoado por Deus.

Essa visão desconectada do que ocorre no mundo e do que mostram dados estatísticos, pesquisas e estudos científicos dificulta os gestores públicos, políticos e o cidadão de forma geral a encontrar soluções eficazes para os problemas e as tomadas de decisão, fundamentais para salvar vidas e recuperar a economia da cidade.

O papel do jornalista é divulgar as informações contidas nos estudos, tornar pública a opinião de profissionais da saúde, vigilância sanitária, economistas, autoridades entre outros, além de ouvir empresários, trabalhadores e o cidadão de forma geral, ajudando a promover um debate racional baseado em fatos e evidências.



A partir de uma visão fantasiosa dificilmente levamos a sério o mundo real e, muito menos, os estudos e pesquisas relevantes, como o artigo de cientistas da Faculdade de Saúde Pública de Harvard, divulgado, semana passada, pela revista americana "Science", uma das mais prestigiadas do mundo.

A conclusão do artigo é que dentro do cenário atual em que não há vacina, medicação nem capacidade hospitalar para atender todos os infectados, teríamos quarentenas intermitentes até 2022.

Dois anos de quarentena parece mesmo um absurdo se não olharmos atentamente para o que diz a pesquisa. Numa visão fantasiosa e desprezo pela ciência corre-se o risco de ignorar um estudo que pode apontar soluções eficazes para os nossos problemas.

Pode ser, e é possível, que até 2022 haja vacina ou alguma medicação eficiente, mas os estudos científicos são fundamentais para refletir sobre como devemos agir e direcionar nossas ações a partir das condições atuais que mostram a necessidade de soluções reais, como o investimento na capacidade hospitalar.



O jornalista pode e deve fazer essa ponte entre a ciência e a sociedade. Como repórter de economia, que entrevistou profissionais e escreveu para a "Gazeta Mercantil", o primeiro jornal de economia do país, o Caderno de Economia do Estadão e para o "Valor Econômico", posso contribuir com informações para ajudar a reorganizar a economia da cidade.

Além da renda mínima permanente tão necessária para a recuperação da massa salarial, a reversão da indústria em especial numa situação de quarentena intermitente é apontada como uma das saídas pelos economistas.

Com isso, as empresas podem adaptar seus parques industriais para fabricar produtos de necessidades para a sociedade, como equipamentos hospitalares e de proteção individual. Serra Negra pode organizar, por exemplo, sua cadeia produtiva de forma a aproveitar a infraestrutura das malharias para produzir máscaras, aventais e luvas.

A cadeia produtiva do setor agrícola também pode ser pensada dessa forma, assim como a rede hoteleira preparada para atender as necessidades de profissionais de serviços essenciais que precisam pernoitar na cidade.



Outras cadeias produtivas como a do couro, da madeira, do artesanato e o próprio comércio se melhor organizadas e fortalecidas numa situação de quarentena terão condições de entrar e sair da situação de isolamento muito mais preparadas.

Posso contribuir também com informações como integrante do Conselho Municipal de Turismo (Comtur) e também como uma das fundadoras da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari, espaço que será fundamental para debater esses e outros temas relevantes para o desenvolvimento da cidade, como já fazíamos antes da pandemia.

Enfim, como cidadã minha colaboração será a de desenvolver a empatia, o espírito de cooperação para ajudar na pacificação e convergência dos debates num momento em que a sociedade está tão dividida, quando deveria estar unida em seus ideais. O primeiro passo para isso será encarar de frente a realidade e valorizar nossa principal fonte de inspiração que é a ciência.


Comentários

  1. É isso. Encarar a realidade, com base nos fatos concretos e nas orientações da ciência, é o único caminho seguro para reduzir danos e enfrentar os desafios que se apresentam hoje e estão por vir.

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