//SAÚDE// Programa da Família atende 13 mil serranos

Leandro Beline Mageste Fontes, médico do PSF no bairro São Luiz:
“A gente que estuda o SUS sabe que o sistema é maravilhoso”

 Salete Silva

O Programa Saúde da Família (PSF), considerado por médicos e especialistas, como um dos melhores sistemas de saúde do mundo, atende em Serra Negra 12.781 pessoas.

O aumento da população, a atualização de cadastro e a crise econômica prolongada, que levou muitos brasileiros a trocar planos de saúde pelo SUS, têm elevado o número de beneficiados no município.

O aumento da demanda pode fazer com que o paciente tenha muitas vezes que esperar mais tempo por uma consulta ou um exame.

Mas mesmo com todos os problemas, segundo o médico Dráuzio Varella, poucos países no mundo têm um sistema de saúde capaz de evitar até 90% das complicações em doenças, como as cardiovasculares e o câncer, responsáveis pelo encarecimento dos custos dos serviços médicos e hospitalares.

Hipertensão, diabetes, colesterol e câncer, além de doenças que afetam o desenvolvimento infantil e as mulheres, em especial gestantes, são alguns dos atendimentos mais frequentes do PSF nos postos de saúde em que o programa é oferecido em Serra Negra.

São sete unidades espalhadas pela cidade: Bairro da Serra, que inclui o Salto, Firmino Cavenaghi, Lions, São Luiz, Três Barras, Palmeiras e Vila Dirce.

Denominado atualmente de Estratégia de Saúde da Família, o programa tem como objetivo desafogar os atendimentos emergenciais nos hospitais e concentrar a atenção e os cuidados médicos na família, intensificando as ações de prevenção, recuperação e reabilitação de doenças.

“Há uma redução futura significativa de gastos”, diz Leandro Beline Mageste Fontes, o dr. Leandro, médico do PSF no bairro São Luiz, que atende a 962 famílias, correspondente a cerca de 12 mil pessoas.

O controle de um paciente diabético ou hipertenso, ele explica, evita que a doença se torne mais grave no futuro.

Além da hipertensão e diabetes, há um aumento no município de casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de câncer, doenças responsáveis por boa parte do número de pacientes acamados.

No São Luiz são 76 pessoas em tratamento e 25 acamadas. Houve um boom de casos de câncer, tendência mundial em decorrência do aumento da expectativa de vida, explica o dr. Leandro.  

“Já o AVC é consequência às vezes da interrupção do tratamento de algumas doenças pelo paciente, mas a causa mais comum desse problema é o tabagismo”, observa.

O PSF do São Luiz oferece atenção especial ainda a 139 famílias consideradas em situação de risco, segundo a Escala de Risco Familiar Coelho-Savassi, um instrumento que determina o risco social e de saúde, apontando o potencial de adoecimento de cada família.

Baseada nesse indicador, a equipe do PSF avalia as condições de moradia, o suporte socioeconômico da família e identifica os principais problemas sociais do bairro.

Crianças e gestantes também recebem atenção especial. “Fazemos o trabalho de puericultura até um ano e depois o acompanhamento até dois anos de idade, além da assistência à gestante e o pré-natal”, salienta a enfermeira Roberta Fernandes Gasparino, da equipe do PSF no bairro São Luiz.

O trabalho de saúde na família não só evita complicações como dá novos horizontes e perspectivas de vida aos pacientes.

Alguns casos se tornam emblemáticos para a equipe, como o da criança cujo desenvolvimento não evoluía apesar de todo cuidado e recomendação oferecidos nas consultas mensais.  “A criança não ganhava peso nem se desenvolvia de maneira adequada”, lembra o dr. Leandro.

A equipe enviou um relatório à Promotoria, que encaminhou o caso aos profissionais do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). A intervenção na família, não punitiva, mas de orientação, passou a ser realizada em conjunto com a equipe médica.

 Meses depois, a criança já apresentava um desenvolvimento condizente com a idade. O dr. Leandro lembra ainda do caso de um casal de idosos que viviam sozinhos e cujo filho morava em outra cidade. Os dois idosos apresentavam problemas de saúde causados por falta de cuidados.

“Acionamos o filho, que de imediato providenciou uma cuidadora e tomou outras medidas que resultaram em melhoria dos problemas, entre os quais o controle da pressão”, relata. 

 Há um ano e meio em Serra Negra, o dr. Leandro veio de longe. “Sou de Matipó, município da Zona da Mata de Minas Gerais”, revela. Distante 754 km de Serra Negra, Matipó é uma cidade pequena, com 18,6 mil habitantes.

Contratado pelo Mais Médicos, ele recebe salário de R$ 11.865,00, mais auxílio moradia de R$ 1.500,00, previsto na legislação municipal.

Sua dedicação ao PSF é integral. Às segundas-feiras cumpre as 8 horas de estudo previstas pelo Programa Mais Médicos. Nos demais dias cumpre jornada de trabalho integral.

Tornar os atendimentos mais ágeis e humanizados tem sido sua prioridade desde que chegou por aqui. Remanejou a agenda, por exemplo, para atender com hora marcada os pacientes que necessitam apenas renovar receitas.

Mesmo quando o paciente não tem uma queixa específica, ele dedica, se necessário, 20 minutos de consulta. “Há pacientes que precisam apenas de atenção, carinho, mesmo porque não apresentam queixa alguma”, afirma.

Com tantos cuidados oferecidos pelo sistema considerado tão eficiente, por que em Serra Negra e no Brasil de forma geral, o SUS e até o PSF são alvos de reclamações?

A excelência do SUS não é a mesma em todo o país, admite o dr. Leandro. Em Minas Gerais, por exemplo, ele cita, o SUS está falido e às vezes o paciente leva mais de seis meses ou um ano para fazer uma consulta ou exame.   

A demanda pelos serviços só cresce e os recursos são escassos. “O caminho não é acabar com o SUS e, sim, aumentar os investimentos em saúde”, analisa. “A gente que estuda o SUS sabe que o sistema é maravilhoso”, acrescenta.

O paciente tem no SUS atendimento, acompanhamento e ainda outros serviços, como vigilância sanitária, que assim como o sistema de vacina e transplantes, beneficia também a população com maior renda e que tem plano de saúde privado.

Algumas medidas do governo federal, no entanto, estão na contramão e, em vez de aumentar os investimentos, promovem corte de gastos.

Uma delas é um decreto que extinguiu, no ano passado, 27.611 cargos de agentes comunitários de saúde, essenciais para detectar os problemas entre as famílias e definir as ações do PSF.

“Cortar esses agentes foi um erro”, avalia a secretária municipal de Saúde, Teresa Cristina Cesar Fernandes.

O governo federal arca agora com os custos de apenas um agente de saúde por equipe. Se considerar importante manter mais de um agente por unidade de saúde da família, o município terá de empregar recursos próprios.

Os agentes fazem busca ativa, que vai desde uma simples verificação dos motivos de falta do paciente em consultas até a investigação de casos de abuso infantil. “Os agentes olham o contexto e trazem até nós”, explica Roberta.

Outro equívoco, aponta o dr. Leandro, é o fim do Mais Médicos, programa que já vem apresentando queda de eficiência desde que os médicos cubanos deixaram o país, como o aumento de 12% da morte de bebês em áreas indígenas no ano passado.

“Vão criar o Médicos do Brasil, que será um programa de início de carreira e que vai remunerar melhor os médicos que forem para as áreas mais pobres, mas o problema vai persistir, porque os profissionais não querem ir para regiões sem infraestrutura”, avalia o dr. Leandro.

Muitos médicos que foram para essas áreas depois da saída dos cubanos já desistiram e as cidades estão descobertas porque não podem contratar.

Há, no entanto, uma esperança de que a mudança na formação universitária dos médicos, atualmente com maior enfoque na assistência básica e na atenção às famílias, humanize a medicina.

"Isso já vem acontecendo há alguns anos”, observa o dr. Leandro. Já é consenso nas escolas de medicina, ele informa, que a saúde da família é o sistema mais eficiente de atendimento médico.  

As informações referentes ao número de serranos atendidos pelo Programa Saúde da Família foram corrigidos. Os dados iniciais se referiam exclusivamente ao bairro São Luiz. 



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