//CIDADE// Serra Negra tem quase um veículo por habitante

Professora Cândida Baptista: necessidade de reduzir o número de veículos

Salete Silva

Serra Negra é uma cidade de 203,734 quilômetros quadrados, com uma população projetada de 27.440 habitantes, que apresenta elevado índice de envelhecimento, alta concentração urbana e uma frota de 20.608 veículos - quase um para cada habitante.

Esses são alguns dos dados apresentados pela professora Cândida Baptista, do curso de engenharia da Universidade São Francisco (USF), de Bragança Paulista, durante a segunda audiência pública para discutir o Plano de Mobilidade Urbana de Serra Negra, realizada terça-feira, 3 de fevereiro, no Mercado Cultural.

A USF foi contratada para preparar o plano por meio de um termo de cooperação técnico-científico com o Consórcio do Circuito das Águas Paulista.

O índice de 0,75 veículos por habitante é um dos dados colhidos que mais chamaram a atenção da professora. “Se considerarmos que há crianças e bebês que não dirigem, há praticamente um veículo por habitante”, observa.

Circulam pelas ruas da cidade 17 mil automóveis, caminhonetes e motos, os chamados veículos individuais.

Chama atenção ainda a discrepância entre o aumento da frota de veículos de Serra Negra e o do Estado de São Paulo. Enquanto no Estado o número de veículos cresce 3%, em Serra Negra, o crescimento é de 14%.


O dado da frota se torna relevante se for considerado que o Plano de Mobilidade de Serra Negra tem como principal objetivo reduzir o número de veículos automotores em circulação.

“Será um trabalho de mudança de paradigma”, diz a professora. O número de veículos cresceu de maneira muito mais acelerada do que o da população, que aumenta apenas 0,41% ao ano, índice considerado, pela professora, dentro da média dos municípios do interior paulista.

Outro indicador positivo é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), usado para classificar o grau de desenvolvimento dos municípios.

Em 2010, último índice divulgado, o IDH de Serra Negra era 0,767, muito próximo ao do município de São Paulo (0,783), o mais alto do país.



A cidade, no entanto, apresenta um alto índice de envelhecimento e um baixo número de crianças e adolescentes de até 15 anos, o que significa, segundo a professora, que Serra Negra é uma cidade de idosos.

O índice de envelhecimento é de 126%. Cerca de 20% da população é formada por pessoas acima de 60 anos. A maior parte são aposentados de outros municípios, principalmente de Santos, que decidem morar na cidade depois da aposentadoria.

“Precisamos pensar em como vamos ocupar essa população para segurá-los aqui, senão será uma cidade de velhos e não haverá trabalhadores”, prevê Cândida.

Na primeira etapa de observação da mobilidade urbana do município, a professora destacou algumas características negativas na mobilidade e no trânsito serranos.

Guias sem rebaixamento para acesso à faixa de pedestre; calçadas danificadas; rampas inadequadas, fora de norma, que não dão autonomia aos cadeirantes; obstáculos isolados no meio da rua; vagas nas ruas ocupadas por veículos de propriedade de donos e empregados do comércio local; e áreas usadas como estacionamento de forma ilegal pelos motociclistas (Praça João Zelante), entre outras.



“A primeira etapa do diagnóstico tem 89 páginas, só apresentamos uma parte”, ressalva a professora. A segunda etapa do diagnóstico será realizada por meio das entrevistas de moradores e turistas em abordagem e pela internet.

Serão entrevistados 650 serranos de todos os bairros. O plano, salienta a professora, vai abranger todo o município. As entrevistas serão realizadas de acordo com a densidade de cada bairro. “Os bairros mais populosos terão mais entrevistados”, ressalta.

As entrevistas serão realizadas provavelmente em maio, por alunos de diversos cursos, como engenharia da computação, engenharia civil e arquitetura, que integram a equipe de trabalho da USF.

Antes disso, entre março e abril, a equipe vai realizar apresentações e dinâmicas nas escolas das redes municipal, estadual e privada para levar até às famílias informações sobre o objetivo do plano de mobilidade e acessibilidade.


A dinâmica com as crianças antes das entrevistas, a professora explica, facilita muito o trabalho dos pesquisadores. “Quando chegam às casas para as entrevistas, as pessoas já sabem do que se trata”, afirma.

Os questionários vão abordar diversos assuntos, como a forma e o número de deslocamentos diários das pessoas, para onde ou por que elas se deslocam (trabalho, estudo, médico, compras e lazer) e quais os problemas que enfrentam de mobilidade (excesso de veículos nas ruas, falta de vaga, má sinalização, dificuldades e qualidade do transporte público, entre outras).



As questões específicas sobre acessibilidade vão incluir as necessidades não só de cadeirantes ou deficientes visuais, mas também de idosos, obesos, gestantes e mães com carrinho de bebê, entre outros.

“A acessibilidade é para todos. Todo mundo tem de ter acesso aos benefícios trazidos para a comunidade”, observa Cândida.

Boa parte das questões será também sobre o hábito ou não de usar a bicicleta como veículo. O plano prevê a construção de ciclovias e poderá ter até bolsões de estacionamento, se os serranos aprovarem algumas mudanças significativas no trânsito de Serra Negra, como o uso para vagas de estacionamento de apenas um dos lados da Rua Coronel Pedro Penteado.

Os turistas também serão entrevistados. O questionário para esse segmento ainda está em finalização. Haverá também um questionário disponível na plataforma Goolge para que qualquer pessoa interessada possa acessar e responder.

As sugestões de soluções vão depender do diagnóstico e das respostas dos serranos. A próxima audiência pública está prevista para maio, quando será apresentada a finalização do diagnóstico. Todos os dados levantados na primeira etapa do diagnóstico vão estar disponíveis no site da USF nos próximos 15 dias.



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