//OPINIÃO// Famílias contêm gastos para brincar o Carnaval

Turistas batem palmas e fecham o bolso no Carnaval serrano (Foto: Gerson Cordeiro/Videograph)

Salete Silva

Serra Negra é mesmo uma cidade de “Carnaval Família” e é desnecessário banir o funk para fazer jus à fama.

A cidade amanheceu nesta terça-feira carnavalesca, 25 de fevereiro, como típica cidade família de um país de economia estagnada.

Turistas e moradores aproveitaram o último dia de Carnaval para caminhar pela Praça Sesquicentenário, desviando, no entanto, dos buracos de suas calçadas, que dificultam o passeio das famílias.

A Rua Coronel Pedro Penteado, a principal avenida do comércio serrano, logo cedo estava tomada pelos consumidores ávidos por uma comprinha de última hora, de preferência de mercadorias em promoção.

Rápida consulta entre comerciantes indica que as vendas neste ano ficaram abaixo das do Carnaval de 2019. O consumidor, dizem lojistas, gosta do produto, quer comprar, mas falta dinheiro.

“Alguns não conseguem levar nem parcelando em 12 vezes. As famílias estão endividadas”, lamenta uma comerciante que prefere não se identificar.

O consumidor teve de optar entre compras, passeios e refeições.

O movimento nos supermercados foi bom, avaliam supermercadistas, mas assim como o dos restaurantes não superou 2019 e, em alguns casos, ficou abaixo do ano passado.

Mesmo segurando preços, reduzindo margens de lucro para garantir freguesia, alguns restaurantes e lanchonetes registraram faturamento abaixo de 2019. A ocupação na rede hoteleira atingiu 100% dos leitos disponíveis na cidade, segundo o presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Serra Negra, Luiz Gomes Machado. Esse índice, ele avalia, é sazonal.


Alto da Serra: movimentado
O Alto da Serra, um dos principais pontos turísticos da cidade, se manteve movimentado durante todo o feriado, assim como os passeios de jipes pela área rural da cidade, que tiveram a agenda lotada neste Carnaval, segundo a empresa Serra 4x4 que oferece esse serviço.

Alguns indicadores econômicos explicam a retração do consumidor e a contenção dos gastos pelas famílias brasileiras, entre os quais o de confiança do consumidor calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que recuou 2,6 pontos em fevereiro ante janeiro.

A perda de confiança do consumidor pelo segundo mês consecutivo é consequência da piora nas expectativas para os próximos meses.

A coordenadora do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Viviane Seda Bittencourt, tem explicação para esse cenário.

As perspectivas menos favoráveis sobre a situação financeira familiar dos consumidores de renda mais baixa estão relacionadas ao mercado de trabalho, explica a coordenadora em nota oficial.

Para os consumidores com renda mais alta, as perspectivas desfavoráveis estão relacionadas ao aumento de incerteza econômica e à alta do câmbio, levando-os a adiar o consumo, acrescenta a coordenadora.  

Se por um lado, Serra Negra se consolida como “Carnaval Família”, por outro começa a despontar como município de pluralidade de ideias.

A exclusão do funk na programação musical causou divergências nas redes sociais.

Serra Negra pode ter “Carnaval Família” sem excluir um gênero musical ligado à cultura negra e nascido nas áreas mais pobres do país, argumentaram serranos contrariados com a decisão da Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico de abolir o funk do repertório das bandas.

Pelo resultado do movimento no comércio, a inclusão social e econômica, no entanto, só será uma realidade quando a economia do país voltar a crescer e a folia de Carnaval e as viagens para o interior do Brasil, assim como para o exterior, como para a Disney, voltarem a ser mais acessíveis às famílias da classe média e também às das faixas de renda mais baixa.  



Comentários