//CRÔNICA// As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar...


Carlos Motta

Se formos considerar a quantidade de pessoas que tem vindo a Serra Negra nestes dias, dá para dizer que o "Carnaval Família" da prefeitura é um sucesso absoluto. 

Um rápido passeio pelo Centro no domingo à tarde foi suficiente para ver que, neste ano, a cidade está mais cheia que nos anos anteriores. 

Por outro lado, também deu para perceber que a Praça João Zelante, que deveria, no planejamento do secretário de Turismo, César Borboni, o Nei, ser o local para o baile dos turistas de mais idade, mais "família", foi tomada pela juventude. 

Poucos dançavam as marchinhas carnavalescas tocadas com competência pela tradicional Banda Lira de Serra Negra. Muitos simplesmente usavam o espaço para beber, circular, paquerar, sem se importar se a música de fundo era ou não o polêmico funk.

Os bares da João Zelante estavam cheios e eram como camarotes para os mais endinheirados.

O comércio, em geral, preferiu apostar na velha receita de vender mais barato para vender mais. Três cervejas em lata, de marcas populares, estavam custando desde R$ 10. A bebida da moda entre os jovens, o Corote, também podia ser encontrado a R$10 - se a vítima resolvesse levar duas garrafinhas.

O Carnaval, desde há alguns anos, ao menos nas cidades grandes e médias, tem como característica o desfile de blocos, revivendo uma tradição muito antiga. A capital São Paulo relançou a moda. 

Já os bailes carnavalescos em clubes, obrigatórios décadas atrás para as classes média e alta, são hoje raridade.

A vizinha Amparo, por exemplo, segue a onda e já algum tempo aposta no Carnaval de rua centrado nos blocos. São vários, cada um com horário e trajeto definidos.

Serra Negra optou por algo diferente, planejando bailões ao ar livre em diferentes locais para públicos distintos.

O marketing foi centrado no "Carnaval Família", sem bagunça, livre de brigas e drogas, como forma de atrair turistas e satisfazer os exigentes serranos.

A juventude, porém, não se importou com slogans ou discussões sobre se foi bom ou não a prefeitura ter banido o funk dos bailões.

Num país governado por gente que vê os jovens apenas como futura mão de obra barata para ser explorada pelo capitalismo mais selvagem e como massa de manobra para que esse brutal sistema político/econômico se perpetue, não resta muito para a mocidade fazer.

Beber até cair, como diz a letra da marchinha carnavalesca, é a opção mais fácil. 

Para a nossa juventude, o Carnaval proporciona tudo aquilo que o seu dia a dia nega: a liberdade, a aventura, a fuga da realidade.

É como fala outra marchinha, que os de minha idade certamente se lembram: "As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar..."









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