//CULTURA// A dama do sarau

Rose Moutran: "Saí do piano por várias anos, mas o piano nunca saiu de mim"

Carlos Motta

Rose Marie Moutran, pode-se dizer, é uma moradora recente de Serra Negra. Mudou-se para cá em dezembro de 2013, vinda de São Paulo acompanhando a filha Daniela, que havia sido contratada para dar aulas no Colégio Libere Vivere. Logo que chegou, procurou conhecer a vida cultural da cidade - ela sempre gostou de arte e lembra que muito nova, com seis ou sete anos de idade, começou a aprender a tocar piano. "Pensava que Serra Negra pudesse ter um festival de inverno como o de Campos de Jordão", diz. 

Rose ainda não viu esse sonho se concretizar, mas teve a compensação e a satisfação de ter ressuscitado um dos eventos artísticos mais interessantes de Serra Negra, os saraus lítero-musicais, que dão a oportunidade para que tanto amadores como profissionais mostrem o que gostam de fazer para um público entusiasmado.

Os saraus foram retomados, graças ao empenho de Rose, no fim de 2016, quando houve o primeiro. No ano seguinte mais dois lotaram o Mercado Cultural, em 2018 a dose se repetiu, e o deste ano está marcado, inicialmente, para o começo de dezembro. "Ainda criança, ia tocar piano em encontros artísticos desse tipo em São Paulo, na casa de amigos da família", diz.

O contato de Rose com a vida cultural de Serra Negra se deu a partir do momento em que o ex-diretor municipal de Cultura Oscar Broleze soube que ela era pianista. Foi ele quem a convidou para tocar na Feira do Livro - "acho que em 2105", tenta se recordar -, numa exposição de orquídeas e na Praça João Zelante. Foi ele também quem a convidou para concorrer ao cargo de conselheira municipal de cultura, na área de música. "Fui eleita e cumpri meu mandato de dois anos", informa.

Toda essa atividade na área cultural foi retomada por Rose apenas depois que ela se mudou, já viúva, para Serra Negra. "Casei em 1969, tive filhos, virei dona de casa, fiquei 20 anos afastada da música. Posso dizer que saí do piano, mas o piano nunca saiu de mim", diz.



O piano... 

O piano é uma história intimamente ligada à vida de Rose Moutran. Ela tem um da prestigiada marca Pleyel desde criança, que trouxe para Serra Negra em sua mudança. No primeiro apartamento em que morou na cidade, ele foi seu fiel companheiro de muitas horas diárias. Mas Rose mudou-se e descobriu, da pior forma, que teria de se afastar dele: ninguém foi capaz de fazer o velho amigo entrar em sua nova habitação. 

O jeito foi comprar um Yamaha digital para substituir o Pleyel que, desmontado, aguarda a hora de se transferir para o Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis, onde Rose pretende usá-lo para entreter os internos. "Fiquei com uma dor no coração por ter de 'aposentá-lo', mas o jeito foi me acostumar a tocar num piano digital."

Esse amor pelo instrumento foi aprofundado nas aulas que Rose teve com professores que fazem parte da história da música brasileira, como Helena Plaut, assistente da internacionalmente famosa pianista Magdalena Tagliaferro - Rose estudou em sua também famosa escola -, ou Osvaldo Lacerda, com quem cursou análise musical. "Meu pai sempre fez questão de que eu tivesse os melhores professores de música, sempre me incentivou a tocar. Lembro que passávamos, todos os anos, dois meses de férias em Santos e ele chegou até a comprar um piano para o apartamento em que ficávamos, para que eu continuasse as aulas nesse período", recorda.

Depois de enviuvar, com os filhos já adultos, Rose resolveu voltar a estudar piano. "Tive aulas com uma professora chamada 'dona Zuleika' e na época frequentava o centro espírita Casa do Caminho, na Vila Mariana, em São Paulo, que organizava frequentemente reuniões musicais. Voltei a tocar ali", conta.

Nos encontros que vem promovendo em Serra Negra, Rose quis reviver o clima dos antigos saraus, "uma coisa quase doméstica". Ela diz que não encontrou muitas dificuldades para organizar os eventos, porque sempre teve muita ajuda do pessoal da Divisão de Cultura. "A equipe de lá sempre me ajudou na divulgação, na decoração, sou muito agradecida a eles, ao Chicão [Francisco Bertan, atual diretor de Cultura]..." 


O próximo sarau vai mudar de lugar. Deixa o Mercado Cultural, onde, a cada edição levava um público de mais de 100 pessoas - o recorde foi 160, no último, no ano passado -, e chega ao Palácio Primavera, local amplo e de boa acústica. "Várias pessoas já me pararam na rua para perguntar quando vai haver outro sarau", afirma. 

As atrações para este novo encontro ainda estão sendo garimpadas. Mas, como nos anteriores, é certo que haverá um pouco de tudo: música erudita e popular, dança, teatro, poesia - Rose lembra que até o grupo local de catira já se apresentou e que ela sempre convida as pessoas da plateia a exibir seus talentos. 

Rose gostaria que houvesse pelo menos dois saraus em cada ano. Mas não só isso. Entusiasmada com o novo palco que a prefeitura reservou à festa artística, ela quer ver se consegue materializar outro sonho seu, o de exibir no Palácio Primavera filmes sobre as óperas mais populares. "Já pensou que coisa linda? A gente poderia começar com 'La Traviata', de Verdi, que tem árias muito conhecidas..."

Por enquanto é só uma ideia. Mas não duvidem se ela, como o sarau, virar realidade.


Comentários

  1. E vai deixar sua marca em Serra Negra!!!!

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  2. Que linda historia, Sra. Rose Marie! Serra Negra tem muita sorte em ter uma ilustre moradora como a senhora❤

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  3. Parabens Rose. Tenho muito orgulho em ser sua amiga.

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