//OPINIÃO// Crianças precisam de livros, não de armas


Salete Silva

A imagem do presidente Jair Bolsonaro (PSL) com uma criança no colo portando arma de fogo nas vésperas do Dia das Crianças correu o mundo e a ideia transmitida pode ter sido a de que nossas crianças estão sendo educadas e preparadas para atirar, em vez de serem protegidas da violência da qual têm sido a principal vítima no país.

 A realidade de boa parte das crianças no Brasil é muito dura, não há contos de fadas, e o mundo sabe disso.

Mas a mensagem que o presidente da República passa é a de que nossos governos não estão interessados em equacionar os problemas infantis para melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes, protegê-los, tirá-los da criminalidade e oferecer melhores condições de vida.

Aghata, 8 anos, Maria Eduarda, 13 anos, Marcos Vinícius, 14 anos são só algumas das cinco crianças assassinadas no Rio de Janeiro, em apenas alguns meses, indo para a escola, dentro de casa ou numa esquina das comunidades.

Armar a sociedade não vai contribuir para tornar a vida das crianças mais seguras. Estudos mostram que há mais mortes de crianças por arma de fogo em Estados dos EUA com legislação flexível.

Um dos estudos analisou todas as admissões hospitalares do país em 2012 e cruzou os dados com o Índice Brady, que avalia o rigor da lei de armas por Estado. No ano analisado, 6.941 crianças e adolescentes foram hospitalizados em decorrência de armas de fogo nos Estados Unidos.

Outro estudo mostra que crianças e adolescentes têm dificuldade em distinguir uma arma de fogo verdadeira de uma de brinquedo.

Quando expostas a duas armas lado a lado, uma verdadeira e outra de brinquedo, 41% das crianças e adolescentes de 7 a 17 anos tiveram dificuldades de discernir entre uma e outra.

Criança precisa de escola, atendimento médico desde a gestação, famílias afetuosas e de investimento e atenção dos governos.

James Heckman, vencedor do Nobel de Economia, estudioso sobre a primeira infância (0 a 5 anos de idade), concluiu que o investimento nessa fase da vida é uma estratégia eficaz para o crescimento econômico e que tem relação direta com a redução da desigualdade social.

Entre o nascimento e os cinco anos de idade, o cérebro se desenvolve rapidamente e é mais maleável. Assim, é mais fácil incentivar habilidades cognitivas e de personalidade - atenção, motivação, autocontrole e sociabilidade - necessárias para o sucesso na escola, saúde, carreira e na vida.

Seus estudos mostraram que investimento em programas escolares de alta qualidade podem resultar em retorno sobre o investimento de 7% a 10% ao ano, com base no aumento da escolaridade e do desempenho profissional, além da redução dos custos com reforço escolar, saúde e gastos do sistema penal.

Os efeitos podem ser observados incluindo em gerações seguintes. Os filhos também se beneficiaram. Coloquem nas mãos das crianças livros, muitos livros, não armas. 

Comentários

  1. A "normalização" do absurdo está-se tornando uma psicose nacional - e muito pouca gente faz algo a respeito. Mesmo quando se trata de crianças. A doença é contagiosa e mortal!

    A respeito de: http://www.tijolaco.net/blog/alo-pgr-vai-ter-investigacao-sobre-violacao-do-eca-no-dia-da-crianca-armada-de-bolsonaro/http://www.tijolaco.net/blog/alo-pgr-vai-ter-investigacao-sobre-violacao-do-eca-no-dia-da-crianca-armada-de-bolsonaro/

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