//ECONOMIA// Paraíba inspira projeto para o Circuito das Águas

Lançamento do programa Líder, no Palace Hotel: o bom exemplo vem da Paraíba

Salete Silva


A história do desenvolvimento do sertão da Paraíba surpreendeu a plateia de cerca de 50 empresários e lideranças políticas do Circuito das Águas Paulista, reunidos na quinta-feira, 24 de outubro, no Palace Hotel.

O evento marcou o lançamento do Liderança para o Desenvolvimento Regional (Líder), programa do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), realizado em parceria com as prefeituras e iniciativa privada de nove cidades da região.

O Cariri paraibano, formado por 31 municípios, com 180 mil habitantes, castigado por longos anos de estiagem, alto índice de analfabetismo e economia decadente, com os mais baixos Indicadores de Desenvolvimento Humano (IDH), se transformou, a partir do início dos anos 2000, numa região com oportunidade de emprego e renda para milhares de famílias que sofriam com a falta de recursos.

“Não há desemprego nesse lugar, o que temos lá hoje é falta de mão de obra especializada”, afirmou Arnaldo Faria Dôso Junior, ex-prefeito de Cabaceiras, que apresentou o Cariri como exemplo bem-sucedido de desenvolvimento regional.

A transformação socioeconômica do sertão paraibano só foi possível com o trabalho integrado dos setores público e privado e o compromisso da comunidade com o desenvolvimento local de forma integrada e sustentável. 

Em menos de um ano, todos os 31 municípios da região já estavam integrados num pacto em que as diferenças políticas foram deixadas de lado e as instituições se uniram com o único objetivo de estimular os negócios para criar oportunidade de emprego e renda.

Hoje o Cariri é terra de artesãos talentosos e famosos, como Maritonio Portela, que ganhou projeção nacional depois de confeccionar peças em tronco de árvore para a minissérie "Alto da Compadecida", uma das inúmeras produções de televisão e cinema realizadas no sertão paraibano.

Por ser cenário pronto para as filmagens com baixos índices de chuva e população disposta a trabalhar como figurante, a região ficou conhecida como “Roliude Nordestina”.


As rendeiras do Cariri
O Cariri virou também a terra das mulheres rendeiras habilidosas e produtoras da renda renascença, que se tornou produto de exportação, com exposição em eventos em Nova York e na São Paulo Fashion Week.  

Graças ao desenvolvimento da caprinocultura na região, a Paraíba se tornou a maior produtora brasileira de leite de cabra, com produção de 5,627 milhões de litros por ano, resultante dos investimentos em cooperativas.

 A criação de bodes e cabras rende além da produção de leite. O setor movimenta uma série de indústrias. Pequenos produtores se dedicam à produção de queijos de alta qualidade e artesãos desenvolveram uma técnica para tratar o couro com produtos naturais.

Em vez do cromo, usam a casca do angico, uma árvore da região para produzir cintos, bolsas, calçados e chapéus. Como não podia deixar de ser, o bode que sustenta toda essa cadeia produtiva é a principal atração da agenda cultural.

A cidade criou o evento Bode na Rua que chegou este ano à sua 20ª edição. A programação conta com feiras, exposições de animais, artesanatos e shows gratuitos em praça pública. A agenda cultural da cidade inclui ainda a Feira Literária de Bouqueirão.

A cidade investiu também no turismo. Os hotéis mantêm durante o ano um elevado índice de uso da capacidade instalada, como o Hotel Pai Mateus, que, segundo Dôso Júnior, ao longo do ano, registra ocupação média de 70%.

A região também é conhecida por seu polo universitário. No período de expansão do ensino público ganhou duas universidades, a Universidade Regional do Cariri e a Universidade Federal do Cariri.

A região do Circuito das Águas Paulista reúne condições para alcançar o mesmo sucesso do sertão paraibano, segundo técnicos do Sebrae e participantes do lançamento do programa Líder.

Participam da iniciativa empresários e lideranças políticas de Águas de Lindoia, Amparo, Holambra, Jaguariúna, Lindoia, Monte Alegre do Sul, Pedreira e Socorro, além de Serra Negra.

De Serra Negra, participam, entre outros, representantes da Associação de Hotéis, Restaurantes e Similares de Serra Negra (Ashores), Comércio Forte e da Associação dos Cafeicultores Certificados Do Circuito Das Águas Paulista (Acecap).

“O potencial dessas cidades é enorme, não só no turismo, como na água, indústria e comércio. O desafio é fazer com que o grupo pense junto e se mantenha unido”, disse Claudio Veras, facilitador do Sebrae Nacional e um dos criadores do método Líder.  

O Sebrae já desenvolveu 57 programas semelhantes em 23 Estados brasileiros, envolvendo 687 municípios e formando 1.712 líderes. “Esses líderes formam uma rede de pessoas para fazer conexões com outros grupos de outras regiões", diz Veras.

O programa, com duração de quase dois anos, será realizado em três etapas: fundação (identificação regional), construção (arquitetar agenda de desenvolvimento) e aplicação (execução da estratégia definida). Os encontros serão mensais.

“Esse projeto está fazendo com que o poder público e o privado se unam para trazer melhorias para o turismo em ações sociais e no comércio dos municípios”, diz a cafeicultora Silvia Fontes, presidente da Acecap.

A transformação no sertão paraibano, segundo Silvia, é exemplo de que o desenvolvimento regional ocorre por meio de ações para melhorar a vida da população.

“Foi proporcionando educação, organização e cooperativismo que Cariri se desenvolveu. Dessa forma, o que já se sabia fazer, passou a ser vendido, e as famílias passaram a ter mais recursos. Com isso o município todo ganhou”, avaliou.

Para o prefeito de Serra Negra, Sidney Ferraresso (DEM), o projeto fortalece a região e promove a aproximação entre os municípios. “Cada cidade possui suas características e tem que apresentar o que há de melhor para atrair mais pessoas”, disse. 

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