//CIDADE// Estudantes "apertam" o prefeito com perguntas incômodas

Estudantes e o prefeito: "Temos de ouvir os jovens, vocês são o amanhã"

Salete Silva

O prefeito Sidney Ferraresso (DEM) prometeu estudar uma parceria com as escolas públicas para incentivar passeios dos alunos aos pontos turísticos da cidade durante o horário de aula. Ele deverá também estudar alternativas para a criação de cursos técnicos.

As promessas foram feitas aos alunos do 9º ano da Escola Estadual Amélia Massaro, que por mais de uma hora participaram de uma reunião com o chefe do Executivo do município, na sexta-feira, 18 de outubro.

Pela primeira vez, o prefeito Ferraresso recebeu um grupo de adolescentes para conversar sobre os problemas da cidade.

Além da visita à prefeitura, cerca de 40 alunos conheceram a Câmara de Vereadores e o Fórum Municipal, uma iniciativa da professora de História Erica Pilom, que levou a sala de aula para além dos muros escolares. A professora Diana Gianotti também acompanhou as visitas.

“Conhecer a função dos vereadores, do prefeito e dos juízes e promotores é fundamental para que possam exercer a cidadania”, explicou Erica.

A entrevista com o prefeito foi feita por cerca de seis alunas porque os meninos, segundo a professora, ficaram acanhados.

Depois de pedir para servir água e café às visitantes, o prefeito iniciou o encontro destacando a presença exclusiva de meninas. “As mulheres estão mandando, cadê os meninos?”, perguntou. Em seguida, começou explicando suas funções.

A prefeitura, destacou, tem arcado cada vez com mais responsabilidades que são das esferas estadual e federal. Ele citou como exemplo a área da segurança. O efetivo da Polícia Militar só funciona até às 20 horas e a Guarda Municipal é que atua depois desse horário.

Todo chamado de emergência por meio de 190 tem o atendimento em Campinas, o que, segundo Ferraresso, torna inviável anteder em tempo hábil as chamadas do município.

Duas perguntas espinhosas dos estudantes resultaram em promessas importantes. Uma delas é com relação à criação de cursos técnicos e empregos.

Os alunos queriam saber por que não há universidades, cursos técnicos nem programa de emprego para que os jovens estudem e trabalhem na cidade.

Para prosseguir nos estudos, aprender um ofício e buscar oportunidades de trabalho, argumentaram os estudantes, é preciso ir para outros municípios, o que nem sempre é desejável ou possível, por falta de recursos financeiros para os gastos com transporte e alimentação.

Para o prefeito, a cidade não tem vocação universitária e criar universidades por aqui seria, na sua opinião, muito difícil e inviável.

Ele prometeu, no entanto, estudar alternativas para criar cursos técnicos, entre elas o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), instituído em 2011 pelo governo federal com objetivo de ampliar oportunidades de capacitação para trabalhadores, além do acesso ao ensino técnico.

O prefeito explicou aos alunos que o principal projeto de sua administração é o turismo. “Às vezes ouvimos reclamação de que a prefeitura só faz coisas para o turismo, mas esse pensamento é retrógrado”, afirmou.

A administração, ele enfatizou, tem de manter o serviço essencial para os moradores e o turismo melhora a vida das pessoas. “O turismo dá emprego, o comércio vende e emprega, os hotéis contratam”, ressaltou.


Os estudantes também foram à Câmara
Muitos dos alunos, porém, informaram que não conhecem nem os pontos turísticos da cidade. Alguns nunca estiveram no Alto da Serra, outros nunca foram ao Cristo Redentor e uma das alunas chegou a pedir para ao prefeito para andar de teleférico. “Nunca vi Serra Negra do alto”, suspirou em voz alta.

Como a cidade é turística, boa parte dos pais trabalha nos fins de semana, feriados e até nas férias escolares, quando poderia passear com os filhos.

“Já tinha notado isso em outras escolas em que dei aula, quando os alunos retornam das férias e pergunto o que fizeram, se conheceram o Cristo, o Macaquinhos, e eles nunca conheceram nada”, revela a professora Érica. A questão é “como empregar numa cidade que investe no turismo, se não conhecem sequer os pontos turísticos?”  

O prefeito prometeu incluir esse tema e possibilidade de uma parceria com as escolas no projeto de desenvolvimento turístico que está elaborando com o Sebrae. “Isso dá para fazer. Quem sabe o teleférico franqueia isso para vocês”, prometeu. Ferraresso respondeu também a uma pergunta sobre o posicionamento de Serra Negra em relação às escolas militares, tema que causou surpresa para ele.

“Não penso nada sobre isso”, afirmou. “As escolas estaduais não são da nossa responsabilidade. O Brasil ficou 20 anos com ditadura militar e agora quer voltar? Acho que não”, afirmou.

Os estudantes reclamaram também da falta de médicos, em especial pediatras, e de aparelhos para exames no Hospital Santa Rosa de Lima, além de medicamento nos postos de saúde e da falta de cintos de segurança em ônibus e vans que transportam os pacientes a cidades vizinhas para fazer exames.

Para os problemas apontados na área da saúde, Ferraresso lembrou que a prefeitura investe na área quase o dobro dos 15% do Orçamento obrigatórios pela Constituição. “Mas tem gente com Mercedes zero que vai pegar remédio de graça na farmácia pública e acaba faltando para quem precisa”, disse.

O mesmo acontece nas creches, um direito da criança previsto em lei, onde, segundo eles, muitas mães se aproveitam e embora não trabalhem, deixam as crianças nas mãos das assistentes de creches e vão "para a piscina" O prefeito anotou as reclamações e disse que iria averiguar.

A última pergunta foi sobre zeladoria. As crianças queriam saber por que há mais “cuidado” com o asfalto, o saneamento básico e a limpeza na área central da cidade do que nas regiões periféricas.

A maioria dos alunos, moradora da Nova Serra Negra, reclamou da falta de asfalto em ruas, do lago que cheira mal, do ponto de ônibus tomado pelo mato. O bairro cresceu muito e é um dos mais populosos da cidade, e a prefeitura tem tentado resolver os problemas incluindo o de asfalto, disse Ferraresso.

O prefeito afirmou que espera a liberação de um financiamento de R$ 5 milhões que prometeu usar para asfaltar todas as ruas da Nova Serra Negra. O município tem pelo menos 100 ruas para serem asfaltadas, mas o dinheiro do financiamento, admitiu, não vai ser suficiente para fazer tudo.

Apesar das perguntas embaraçosas dos alunos, o prefeito disse que gostou da reunião. “Essa visita é muito importante. Temos de ouvir os jovens. Pela ordem natural, vocês são o amanhã, alguém de vocês pode ser prefeito. Fico feliz em saber que vocês se interessam, discutem e reclamam”, finalizou.

Comentários

  1. Nossos jovem são o futuro temos que ouvir e respeitar suas opiniões e sempre procurar melhorar Parabéns jovens

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