//ECONOMIA// Comércio busca alternativas para vender mais

Comerciantes buscam alternativas para aumentar as vendas nestes tempos de crise

Fátima Fernandes*

Nascida na principal rua de comércio de Serra Negra, a Coronel Pedro Penteado, e criada por uma família de comerciantes, Ana Maria Fioravanti Postalli sabe o que é tocar um negócio em tempos de crise.

Em 2008, quando a crise imobiliária explodiu nos Estados Unidos, a dona da Handicraft, loja especializada em artigos para cama, mesa e banho, decidiu investir em um novo prédio, animada com o desempenho de suas quatro lojas até então.

“Por aqui, falava-se em ‘marolinha’, não em crise como a dos Estados Unidos. Mas não foi o que aconteceu. Perdi o prédio financiado, três lojas e a minha casa”, diz.

Já passou pouco mais de uma década desde o sufoco financeiro enfrentado por Ana Maria.

Agora, com apenas uma loja, ela começa a sentir novamente os consumidores um pouco mais entusiasmados com as compras.

“Este ano está melhor do que o ano passado. Contratei funcionário, agora são três [ela já teve 12]. E o faturamento da loja subiu entre 20% e 30% em relação a 2018”, diz.

Além de o consumidor estar abrindo a carteira com um pouco mais de facilidade, Ana Maria tomou algumas medidas para reforçar o caixa.

Serra Negra, localizada no interior de São Paulo, vive de turismo, especialmente nos fins de semana. Artigos de couro e malharias são o forte do município.

O que a comerciante fez foi tentar atrair para a sua loja também os moradores da cidade, com uma população próxima de 30 mil pessoas, e da região.

“O meu preço é melhor do que o da Casas Pernambucanas de Amparo”, afirma.

A lojista também manteve um sistema antigo de venda, muito comum em cidades minúsculas, que é o uso de cadernetas.

O cliente escolhe as mercadorias, leva para a casa e paga uma vez por mês. “Todo o começo de mês eles vêm à loja para pagar e comprar mais”, diz.

Uma centena de moradores da cidade compra por esse sistema na Handicraft, de acordo com ela, e paga religiosamente em dia.

A loja também oferece produtos exclusivos, como toalhas de mesa emborrachadas, que são o carro-chefe, panos de prato bordados e outros itens para a cozinha.

Os bordados em toalhas de banho e em outras peças são exclusividade da loja.

O ritmo de vendas deste ano levou Ana Maria a reforçar as compras para o Natal, que ficaram reduzidas durante anos.

Neste fim de ano, o volume de peças como caminhos de mesa, panos de prato e outros itens natalinos, será 50% maior do que o do ano passado.

Além do esforço da própria loja para retomar o ritmo de faturamento, ela recebeu um empurrão.

Há um movimento novo de lojistas e donos de restaurantes, hotéis e pousadas para atrair turistas para a cidade e região.

Isso fica mais fácil em temporadas.

Serra Negra é mais procurada no inverno. Os hotéis ficam mais cheios por conta das atrações e shows na praça central e da maior procura por roupas de inverno e artigos de couro.


Rafael Accorsi: objetivo é oferecer melhores produtos e serviços
O desafio dos empresários agora é atrair também o turista ao longo dos outros meses do ano.

É por isso que acaba de ser criada a Associação Comércio Forte, com a finalidade de organizar e integrar a sociedade local em busca do desenvolvimento turístico da cidade.

A entidade surgiu a partir de um grupo de empresários locais linkados pelo WhatsApp. Cerca de 40 deles estão ligados à associação.

“Serra Negra vem mudando o ciclo de turistas, que são diferentes a cada ano, muito em função da crise e da oferta. Queremos ajudar a desenvolver a cidade para ser um polo atrativo com melhores produtos e serviços”, afirma Rafael Accorsi, presidente da associação.

A nova entidade pretende envolver a prefeitura da cidade, que já enviou representantes para participar de encontros com os empresários locais.

As lojas de Serra Negra abrem todos os dias, das 9 às 18 horas.

A extensão de horários, especialmente às sextas-feiras e aos sábados, quando há mais movimento na cidade, é um dos assuntos que poderão ser debatidos pelo grupo.

Para que isso ocorra, diz Accorsi, é preciso que haja extensão de horários dos ônibus que são utilizados pelos serranos.

Abrir as lojas até mais tarde também requer pagamento de horas extras e/ou contratações de funcionários.

Esse assunto e outros capazes de melhorar os produtos e serviços da cidade para atrair mais turistas vão começar a ser bem mais discutidos em Serra Negra.

Esse movimento já surtiu efeito na cidade.

Em julho deste ano, Serra Negra já recebeu o maior número de visitantes dos últimos dez anos. O faturamento de algumas lojas chegou a subir até 60%, de acordo com Accorsi.

O Festival de Inverno atraiu cerca de 400 mil pessoas para a cidade durante dois meses, de acordo com informações da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico da cidade.

Em polos de comércio de outras partes do país há outros movimentos.

No próximo dia 15 de setembro, Dia do Cliente, lojistas de várias partes do Brasil preparam ações para fisgar os consumidores, como a redução de até 70% dos preços.

A data comemorativa foi criada em 2003, mas está sendo cada vez mais lembrada pelos lojistas.

* Fátima Fernandes é jornalista especializada em economia, negócios e varejo e editora do site varejoemdia.com, onde esta reportagem foi publicada originalmente.

Comentários