//ASSISTÊNCIA SOCIAL// Bolsa Família ajuda serranos a comprar comida

Taís e seus três filhos: os R$ 212 mensais do Bolsa Família só dão para a comida

Salete Silva

Na mais profunda e longa crise econômica da história do país, o Programa Bolsa Família tem sido a salvação de famílias de Serra Negra que usam todo o recurso que recebem do programa para comprar comida.

O dinheiro depositado mensalmente na conta bancária de 516 famílias, o que daria cerca de 2.064 pessoas, equivalentes a 7,3% do total da população da cidade, é muitas vezes a única fonte de renda mensal fixa da família.

“Graças a Deus, há quatro meses meu marido está empregado, mas até então só trabalhava por empreitada na roça de café de sítios das Tabaranas”, relata Taís Aparecida de Moraes Alexandre, dona de casa, mãe de três crianças de 10 anos, 8 anos e 6 anos.

“Antes, ele não tinha salário fixo e o dinheiro do Bolsa Família era a única garantia para comprar comida para as crianças”, acrescentou.

Taís recebe R$ 212 mensais do programa e relata que até gostaria de gastar o dinheiro com material escolar ou roupas para as crianças, mas só tem comprado mesmo é comida.

Ela mora na Fazenda Fortaleza do Rumo, bairro dos Macacos. A fazenda fica atrás do Parque das Vertentes, um dos condomínios de alto padrão da cidade, com belas residências e área de lazer arborizada, onde é possível encontrar imóveis à venda por mais de R$ 3,5 milhões.

É preciso atravessar o condomínio e passar por uma porteira para chegar às casas de empregados da fazenda. A família fixou residência ali, há quatro meses, depois que o marido de Taís foi contratado para trabalhar como funcionário da propriedade rural.

“Agora, está bem melhor do que antes”, ela comemora. As crianças também parecem bem adaptadas ao local. “Não vou para a roça ajudar meu marido porque não é permitido que as mulheres trabalhem aqui, já que temos casa, água e luz”, explica.

As crianças frequentam escolas próximas. Os dois mais velhos são alunos da Escola Estadual Professora Amélia Massaro e a menor frequenta a creche e o ensino infantil da Escola Municipal de Educação Infantil Aracy Patrício.


Juliete: "A gente quer deixar de precisar"
Se para Taís o Bolsa Família tem sido o esteio financeiro da família nos últimos anos, para a operadora de caixa e estudante de maquiagem Juliete Aparecida Pereira, desempregada há quase um ano, o Bolsa Família serviu de alavanca para reerguer sua família.

Desempregada há um ano, Juliete, moradora do bairro da Ramalhada, disse ter entrado em desespero com a dificuldade de encontrar um novo trabalho.

O dinheiro do programa é a garantia de pelo menos uma renda fixa mensal para a compra de comida. “O Bolsa Família veio para reerguer a gente num momento em que precisávamos muito. Sem esse dinheiro estava passando necessidade”, afirmou.

Mãe de três adolescentes de 16, 15  e 13 anos, ela recebe R$ 130 do programa. Os dois filhos mais velhos moram com a avó, que também é beneficiária do Bolsa Família. O marido, também agricultor, não tem emprego fixo e ela há um ano não consegue se recolocar no mercado, embora tenha experiência como operadora de caixa e recepcionista.

“O Bolsa Família não acomoda as pessoas. Ao contrário, dá força para a gente se levantar”, ela diz. Para Juliete, as críticas ao programa são fruto da desinformação. “Acham que as pessoas que recebem são vagabundas ou que fazem filho para receber o programa”, lamentou.

Mas ela mesma disse ter constatado que as pessoas que participam das reuniões do Bolsa Família são todas trabalhadoras, têm renda muito baixa ou estão sem renda por causa do desemprego.

“O que a gente mais quer é deixar de precisar”, diz. Juliete planeja concluir o curso de maquiagem oferecido pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Serra Negra para começar um negócio próprio.

Com 59 anos e sem qualificação, o ajudante geral Valdir Bueno Ramos da Fonseca, morador do bairro das Três Barras, depende não só do Bolsa Família, mas também do Frente de Trabalho, um programa emergencial de desemprego.

Além de comprar comida, ele paga água e luz com o dinheiro do Bolsa Família. No programa Frente de Trabalho, ele tem garantido apenas seis meses consecutivos de emprego. Quando vence esse período, Valdir diz que deixa o programa e tem de esperar mais seis meses para poder ser reempregado na Frente de Trabalho novamente. “Nesse período de espera a gente passa necessidade”, afirmou.

A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social tem registrado entre 10 e 15 novos cadastros por mês no Bolsa Família. Mas o governo federal desde maio não aceita novos cadastramentos, além de atrasar repasses de programas sociais.

O Bolsa Família é um programa de transferência de renda, criado em 2003 no governo Lula e instituído por lei federal em 2004 com a unificação e ampliação de cinco outros programas anteriores de transferência de renda, entre os quais o Programa Nacional de Renda Mínima, o Bolsa Escola, do governo Fernando Henrique Cardoso.

Um dos principais resultados positivos do programa veio em 2014 quando o Brasil saiu do Mapa da Fome da Organização Nacional das Nações Unidas (ONU).

Apesar de ter atrasado os repasses de recursos de programas sociais e não aceitar há mais de três meses novos cadastramentos para o Bolsa Família, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) estaria estudando, segundo informações do jornal O Globo, publicadas na semana passada, a ampliação do Bolsa Família de 80 milhões de pessoas para 92 milhões, mas sem elevar os recursos estimados em R$ 52 bilhões.

A ideia seria restringir o programa para as famílias com renda familiar de R$ 89 per capita, não mais de R$ 178 per capita, como é hoje, o que excluiria dele muitas famílias hoje atendidas.

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