// POLÍTICA// As vozes discordantes da Câmara Municipal (2)

Ricardo, Roberto e Leandro: de dois em dois anos a prefeitura faz alguma coisa

Nesta segunda parte da mesa-redonda promovida pelo Viva! Serra Negra com os três vereadores serranos oposicionistas - Roberto Almeida (PTB), Leandro Pinheiro (PV) e Ricardo Fioravanti (PDT) -, eles dizem que os principais problemas dos bairros da cidade são "manutenção e zeladoria", ou, como exemplificou Leandro, "tapar buraco, limpar bueiro, notificar os donos de terreno..."


Para eles, essa situação é tão grave que até vereadores da situação cobram insistentemente o prefeito para tomar providências, que não vêm porque ele está preocupado em "fazer política e não administrar".

Outro ponto destacado na conversa foi a ideia de transferir para o Centro de Convenções secretarias e outros órgãos públicos - e até mesmo a prefeitura -, para economizar o que o Executivo gasta hoje com aluguel de imóveis, propiciar mais vagas de estacionamento de veículos no Centro e ocupar o local, que hoje abriga apenas a Câmara Municipal. "A ideia de privatização do Centro de Convenções do prefeito é boa, mas para privatizar tem de ter um investimento mínimo de mais de R$ 2 milhões", diz Leandro.

A seguir, a segunda parte da mesa-redonda:

Viva! Serra Negra – Quais são os principais problemas dos bairros de Serra Negra? 

Leandro Pinheiro – Manutenção e zeladoria. Tapar buraco, limpar bueiro, notificar os donos de terreno...

Ricardo Fioravanti – Em toda a sessão sãos lidas umas 50 reivindicações, que incluem até varrer rua. 

Leandro Pinheiro – Tem vereador da situação pedindo para varrer rua. 

Ricardo Fioravanti – Quando a gente fala da situação...não é uma crítica ao vereador, é que nós três criticar a situação faz parte. Mas quando um dos vereadores da situação faz o pedido é porque ele não aguenta mais pedir para que o serviço seja feito. Se o vereador da situação está pedindo para varrer rua é porque alguém está fazendo essa solicitação, seja eleitor ou alguém que ele tem amizade. Chega uma hora que ele não tem mais para quem pedir, pediu para o secretário, faz uma série de pedidos e ninguém vai. Aí ele faz o pedido para mostrar que pediu. 

Viva! Serra Negra – E por que, na visão de vocês, acontece essa falta de atenção na zeladoria dos bairros?

Ricardo Fioravanti – Porque estão mais preocupados em fazer política, não de administrar. 

Leandro Pinheiro – Porque tem coisa que aparece mais.

Viva! Serra Negra – Mas quanto por cento de eleitores estão nos bairros? 

Leandro Pinheiro – De dois anos em dois anos fazem alguma coisa. O Festival de Inverno é um exemplo. Há uma diferença muito grande do que foi feito este ano com o que foi feito no ano passado. Diferença em apenas um ano. É o que vai acontecer com relação à zeladoria dos bairros. A qualidade dá um salto muito grande em relação aos dois primeiros anos.

Viva! Serra Negra – Não é uma coisa linear ao longo dos quatro anos de administração...

Leandro Pinheiro – É isso. Não há planejamento. Fizeram um programa, chamado Viva Seu Bairro, acho que era isso. Era um programa que pretendia realizar todo o trabalho de zeladoria necessário num bairro por vez. Mas a prefeitura começou a fazer na Vila Dirce e no São Luiz e depois parou.

Viva! Serra Negra – Pararam por quê? 

Ricardo Fioravanti – Como estava difícil o trabalho, eles pararam. Ficaram uma semana com retroescavadeira, roçadeira, o pessoal limpando. Ficaram uma ou duas semanas de mutirão de serviço para dar um tapa. Se o bairro estivesse em ordem, tudo bem, pega meia dúzia de pessoas dá um tapa e pronto. Mas voltando ao assunto do Festival, aqui foi oferecer o mesmo produto pelo menor preço. Você pega Poços de Caldas, Campos do Jordão e outras cidades equivalentes à nossa com preço 30% a 40% maior que o nosso. Isso ajudou bastante. O turista cotava nos sites, como o Decolar, no mesmo período 30% a 40% mais caro, então vem para Serra Negra. Isso ajudou muito. A nossa qualidade de hotel aqui é muito melhor. 

Leandro Pinheiro – Além disso, tem hotel de qualidade e para todos os tipos de bolsos e gostos. Tem desde hotel-fazenda até urbano. Temos pousadas requintadas e outras simples, em que alguns querem só para dormir. 

Viva! Serra Negra – E com relação ao comércio, que recebe muitas críticas do serrano por ter perdido a identidade de vender malhas. O perfil do comércio atende a demanda do turista?

Ricardo Fioravanti – O comércio perdeu um pouco a característica da malha e do couro que era antigamente. As lojas diversificaram e isso é bom até para os serranos, porque a gente acha tudo. Mas se a gente olhar para as cidades da região, como Jacutinga e Monte Sião, tem malharias tradicionais na produção de malha fechando. Fiz muitas feiras, 20 feiras no ano. Esses donos de malharia, grandes malharias, estão fechando. Muitos com 40 funcionários, que produziam 200 mil peças. De uns dois anos para trás, muitos vêm fechando. As malharias vão para a China, levam o modelo, encomendam cor, tamanho e pagam metade do preço.

Leandro Pinheiro – Os próprios shoppings também estão diversificando em grandes cidades. Antigamente se achava só produtos mais requintados nos shoppings. Agora, não. Tem produtos da China, material escolar dentro do shopping. Isso é global. O comércio ficou sem barreiras.





Viva! Serra Negra – Vocês falaram do uso dos espaços públicos sem a contrapartida, como o caso das antenas no Alto da Serra. Qual é a situação, por exemplo, dos bares da Praça João Zelante, que ocupam as calçadas?

Leandro Pinheiro – Existe taxa. Mas a taxa que existe, se for reajustada nos valores de hoje, fica inviável para qualquer comerciante. 

Ricardo Fioravanti – Também é bom lembrar que quando tem show de final de semana, na maioria das vezes, quem contrata são os bares. Quem paga o show das praças são os comerciantes. 

Leandro Pinheiro – Como o comércio de Serra Negra é chamado de shopping a céu aberto, todo o shopping tem sua praça de alimentação. Acho que lá tem de ter, lógico, uma determinação para não virar anarquia, mas tem de resolver. Já conversei sobre isso com o prefeito. No Festival de Inverno os comerciantes patrocinaram a Band Campinas com um valor. Não sei como foi dividido, mas cada um deu valor para isso.  


"Sonho em ver o Centro de Convenções 
como um Paço Municipal, como se fosse 
uma empresa, sem muitas divisões"
(Leandro Pinheiro)
  

Viva! Serra Negra – Outro exemplo é o Centro de Convenções. Todos os shows foram pagos e a prefeitura não cobrou do empresário que promoveu os shows. 

Leandro Pinheiro – Então, são certos pontos que eu acho que poderiam ter sido mudados.

Ricardo Fioravanti – Tem um outro lado. O Centro de Convenções está inativo. Serra Negra há muito tempo não via shows, como o dos Titãs, e não é qualquer empresário que arriscaria trazer um show desse tipo aqui sem ter alguma segurança de retorno. O empresário não vai correr o risco de investir sem saber se funciona. Nesse primeiro momento, acho que fizeram o correto. Não cobrar nada. 

Viva! Serra Negra – E houve show cancelado por falta de público...

Ricardo Fioravanti – Isso. Além disso, o empresário pagando...

Viva! Serra Negra – Moradores reclamaram do preço dos ingressos. Teria como fazer um preço especial para os serranos?

Ricardo Fioravanti – Poderia dar um desconto para morador, mas como saber se é morador? É um pouco difícil. 

Leandro Pinheiro – Como foi tocado no Centro de Convenções, queria responder uma das primeiras perguntas sobre a visão de oposição. Uma das perspectivas nossa é de que o Centro de Convenções é subutilizado. A prefeitura paga de aluguel de imóveis mais de R$ 2 milhões em quatro anos. A ideia de privatização do Centro de Convenções do prefeito é boa, mas para privatizar tem de ter um investimento mínimo de mais de R$ 2 milhões.

Viva! Serra Negra – O secretário de Turismo, em entrevista que deu para a gente, falou em R$ 10 milhões.

Roberto Almeida – É isso mesmo. Precisa de investimento em acústica, que é muito ruim. 

Leandro Pinheiro – Não tem ventilação, não tem ar-condicionado, os banheiros precisam ser reformados. Agora, essa economia poderia ser feita usando aqui para ser da prefeitura e o prédio da prefeitura ser utilizado para alguma atração turística. Pode-se se usar para convenções e para a área administrativa.

Ricardo Fioravanti – Pega todos os prédios alugados pela prefeitura... tem custo com água, luz, telefone, internet, transporte.

Viva! Serra Negra – Caberia tudo no Centro de Convenções?

Ricardo Fioravanti – Caberia tudo aqui. E vou mais além. O que os turistas e as pessoas mais reclamam no centro da cidade é da falta de estacionamento. Quantos carros serão tirados do Centro de funcionários e de pessoas que usam os serviços? Em volta do Mercadão, onde funciona a Secretaria de Educação, também liberaríamos vagas. Quantos carros tiraríamos do Centro de quem trabalha e de quem procura o Poder Público? Tem economia e vazão do trânsito.

Leandro Pinheiro – A manutenção vai estar aqui mesmo. 

Roberto Almeida – Já fizemos requerimento nesse sentido. 

Ricardo Fioravanti – E uma conta que tem de entrar nisso também é quanto custa a manutenção do Centro de Convenções parado. 

Viva! Serra Negra – Por que essa ideia de transferência da prefeitura para o Centro de Convenções ainda não vingou? Seria para beneficiar locadores de imóveis?

Leandro Pinheiro – Não tenho como afirmar, mas como o Roberto disse, um vereador da oposição é contido, o outro é explosivo e o outro é agressivo, então acho que a resistência à ideia é tão grande que dá para desconfiar. Nós temos o direito da desconfiança. 

Roberto Almeida – Alguns serviços poderiam ser mantidos na cidade. Tributação, por exemplo, poderia ter um posto para protocolar alguns serviços essenciais.

Leandro Pinheiro – Não precisa ter tudo aqui. Aqui pode ficar a Guarda Municipal, Secretaria de Turismo... 

Roberto Almeida – Quanto se gasta de transporte de uma secretaria para outra? É uma questão de logística.

Leandro Pinheiro – Quando se gasta com limpeza? Também poderia economizar. Sonho com algo como um paço municipal, como uma empresa, sem muitas divisões. O prefeito poderia ter seu gabinete. Mas poderia ser uma organização mais aberta.

Roberto Almeida – Poderiam ser baias, como nas grandes empresas. Melhora a comunicação entre os funcionários.

Viva! Serra Negra – Voltando ao trabalho dos bairros. Esse projeto que cria a Ouvidoria da Câmara facilitaria a notificação das reivindicações dos bairros e tornaria mais ágil a ação da administração municipal?

Ricardo Fioravanti – Quem vai responder pela Ouvidoria é o secretário-geral [Demétrius Ítalo Franchi]. Vai ter de ser feito, muita gente não sabe que a Câmara é como uma empresa.

Roberto Almeida – O melhor arquivo que tem da cidade está aqui. 

Ricardo Fioravanti – E digitalizado, porque foi uma recomendação do Tribunal de Contas para que o arquivo fosse digitalizado para que as informações não se percam com goteira, fogo. Uma das coisas que tem de ser feita é que pelo menos um estagiário tem de ser contratado. Não dá para fazer tudo. Os funcionários têm muito trabalho. Todos os funcionários recebem pedidos para notificações a todo o tempo.Teremos um celular que ficará na Câmara, no final de semana já pega o pedido e na segunda-feira o estagiário já digita as notificações. 

(Leia amanhã a última parte da mesa-redonda com os três vereadores oposicionistas)

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