//POLÍTICA// As vozes discordantes da Câmara Municipal (1)

Ricardo, Roberto e Leandro: a prefeitura fez muito para o Centro e pouco para os bairros


Salete Silva e Carlos Motta


Dos 11 vereadores da Câmara Municipal de Serra Negra apenas três se declaram, abertamente, oposição ao governo do prefeito Sidney Ferraresso (DEM) - menos de um terço do Legislativo local. É pouco para mudar o rumo de votações de projetos importantes, mas Ricardo Fioravanti (PDT), Roberto Almeida (PTB) e Leandro Pinheiro (PV), cada qual à sua maneira, têm sido a voz dissonante na política institucional serrana.

Nesta primeira parte de uma mesa-redonda promovida pelo Viva! Serra Negra, o trio de oposicionistas fala sobre como gostaria que a cidade fosse administrada, critica a falta de planejamento da prefeitura, os problemas de zeladoria nos bairros e, principalmente, a ausência de investimentos no setor que julgam prioritário, o turismo.

"Nosso principal objetivo seria um investimento maior no turismo da cidade. Mas um turismo responsável, voltado também para o nosso cidadão, não esquecendo do nosso munícipe. Acho que a maior indústria que a nossa cidade tem, e é uma indústria limpa, é o turismo", diz Roberto Almeida, ao responder à pergunta sobre o que seria diferente na cidade se o grupo político com o qual concorreram, na eleição passada, tivesse sido vitorioso.

Leandro Pinheiro sugere que Serra Negra explore mais, como atrativo para os turistas, a qualidade de vida da cidade, e Ricardo Fioravanti destaca a excelente localização da estância, a 170 quilômetros da capital do Estado, como um ponto a favor para impulsionar o movimento turístico local.

Os três concordam em que o Festival de Inverno deste ano foi um sucesso, em que a divulgação do evento foi muito benéfica para a cidade, mas dizem que esse trabalho não pode ser interrompido, já que nos próximos meses o fluxo de visitantes cai muito na cidade, prejudicando a economia doméstica.

Leia, a seguir, a primeira parte da mesa-redonda:


Viva! Serra Negra - Se o grupo político de vocês tivesse sido eleito, o que seria diferente hoje em Serra Negra?

Roberto Almeida – Nosso principal objetivo seria um investimento maior no turismo da cidade. Mas um turismo responsável, voltado também para o nosso cidadão, não esquecendo do nosso munícipe. Acho que a maior indústria que a nossa cidade tem, e é uma indústria limpa, é o turismo. Junto com o turismo temos a capacitação do funcionário municipal, o investimento na área de meio ambiente, onde a nossa cidade deixa um pouco a desejar, temos uma Secretaria do Meio Ambiente muito mal equipada, na minha opinião. O turismo foi tratado nessas últimas férias da maneira que gostaríamos que fosse tratado desde o começo. Sabemos também que muita coisa que aconteceu agora no Festival de Inverno já vinha sendo programado, não só pelo atual secretário, como pela secretária anterior. A nossa visão seria um investimento maior no turismo. Não esquecendo jamais do cidadão, de quem vive aqui, de quem trabalha aqui, de quem luta para que Serra Negra seja uma cidade melhor a cada dia.

Viva! Serra Negra -  E como seria esse investimento, de onde sairiam os recursos?

Roberto Almeida – Nós aprovamos uma lei agora que trata de patrocínio, que é interessante, que deve ajudar muito o desenvolvimento do turismo. O projeto de turismo deveria prever mais pontos de turismo. Temos poucos pontos de turismo. Temos um ponto de turismo maravilhoso que é o Alto da Serra, isso ninguém discute. O trabalho começou com o pessoal do clube de voo, lá na legislatura passada, quando eu e o Ricardo Fioravanti éramos vereadores, esse pessoal abraçou o Alto da Serra e trabalhou e fez o que é o Alto da Serra hoje. O Alto da Serra é um sucesso, está se divulgando bem, mas tudo isso graças ao pessoal do clube de voo. A prefeitura aproveitou a carona do clube de voo e está dando sequência. Temos de criar pontos de turismo. Qual é o ponto de turismo que temos na cidade hoje? Temos o comércio forte, o comércio agradável, com lojas bonitas, mas não temos outros pontos atrativos de turismo. A municipalidade agora, este ano ou no final do ano passado, recebeu uma área em doação. Apresentei ao prefeito nossa sugestão de que ali virasse outro ponto de turismo. A gente tem outros locais que deveriam ser melhor explorados, a represa, a Santa Lídia, o Parque Fonte São Luiz, que é um problema muito sério, no qual toda a administração investe, mas não se consegue nunca ir para frente. 

Viva! Serra Negra – Você não acha que nem esse projeto que está em andamento vai melhorar a situação do São Luiz?

Roberto Almeida – Acho que depois que o projeto estiver funcionando é que saberemos. Todo o projeto é bem-vindo, desde que a sequência dele seja bem administrada. Não adianta fazer um projeto e depois abandoná-lo no meio do caminho. 


Roberto: "Somos hospitaleiros.
Temos de aproveitar nossas qualidades"
Viva! Serra Negra – Qual seria, na opinião de vocês a identidade turística de Serra Negra? 

Roberto Almeida – Foi realizado um projeto junto com o Conselho de Turismo [Contur)] que definia os pontos de atuação do turismo em Serra Negra. Foram votados vários itens e em primeiro lugar ficou o turismo de negócios e eventos, segundo o turismo rural e terceiro o turismo de saúde. Serra Negra, segundo o que foi decidido aquele dia pelo projeto, deveria investir nessas áreas.

Viva! Serra Negra – Esse primeiro lugar, o turismo de negócios e eventos, seria para aproveitar o Centro de Convenções? 

Leandro Pinheiro – O Centro de Convenções da cidade, o centro de convenções da igreja [Quadrangular], mais os centros de convenções dos hotéis. Seria para utilizar a infraestrutura voltada para negócios e eventos no geral, dizendo que negócios e eventos é o que movimenta a cidade. Mas a minha opinião é que Serra Negra deveria ser vendida como uma cidade de qualidade de vida. Há aqui uma mistura de negócios com as outras áreas. Não conseguimos ter aqui, até por ser uma cidade pequena, negócios corporativos, como São Paulo e Belo Horizonte. Temos pequenos negócios, como feiras, convenções de sindicatos, de professores, mas grandes eventos não comportamos. Mas qualidade de vida, trazendo aqui junto com negócio, é que traria o turista de maneira constante. 


"Todas as emissoras de televisão
têm antenas no Alto da Serra e não
pagam nada para a prefeitura"


Viva! Serra Negra – E o que apresentaríamos como qualidade de vida?

Leandro Pinheiro – Aqui tem segurança, tem águas, que têm de ser preservadas. Temos também uma cidade com a sensação bucólica de interior, tem toda a parte do interior em que todos se conhecem, tem a parte de atendimento pessoal do comércio. Os hotéis têm uma prestação de serviço totalmente pessoal. O turista tem contato com os donos dos hotéis, os empregados e gerentes são conhecidos. Fora a paisagem, a natureza.

Roberto Almeida – Nós somos uma cidade hospitaleira. Serra Negra é conhecida nacionalmente como isso. O que temos de aproveitar são as nossas qualidades. Conheci uma pessoa que morou em Serra Negra, que trabalhou numa empresa de eventos de sucesso. Ela dizia: "Roberto, vocês estão sentados em cima de um tesouro e só não sabem como explorá-lo.” Se vocês me perguntarem como explorar, não sou a pessoa mais indicada para dizer. Sou advogado, não turismólogo. Não sou um empresário que tem uma visão de como aumentar o turismo na cidade. Mas essa pessoa dizia para mim: "Vocês estão num berço de ouro, só não sabem como explorar." Isso não é culpa da administração atual. Isso vem de várias administrações. Não podemos culpar a de hoje nem as anteriores. Fomos perdendo algumas coisas durante o tempo. Os pais do Ricardo Fioravanti são comerciantes, tradição que vem desde o avô. Eles sabem bem como foi Serra Negra no começo. Quando seu avô começou com a primeira loja era bem diferente.

Ricardo Fioravanti – Eu costumo falar que estamos a 170 quilômetros da principal capital do país, o coração da máquina. Sabemos que a segunda arrecadação da União é o Estado de São Paulo e a terceira arrecadação é a cidade de São Paulo, que arrecada mais do que muitos Estados e nós estamos somente a 170 quilômetros dessa capital. Temos condições boas de estrada para chegar, a estrada, se comparada a Campos do Jordão, por exemplo, é muito melhor. Para entrar em Campos do Jordão tem de passar por favela. Para chegar em Serra Negra passamos por estradas maravilhosas. Serra Negra é o segundo maior número de leitos do Estado de São Paulo. Só perdemos para Aparecida. Temos rede gastronômica, temos comércio muito forte, temos alguns pontos turísticos. Concordo com o Roberto de que temos de buscar alguns pontos turísticos. Mas temos a Fonte Santo Agostinho que é tradicional, temos o comércio, a praça de gastronomia da cidade, o passeio de teleférico, o Alto da Serra. E como o Roberto lembrou, quem fez aquele madeiramento foi o clube de voo. A prefeitura agora, uns meses atrás, é que resolveu colocar grama lá. Foram dois anos e meio sem a grama lá. A prefeitura pegou carona ali. É válido? É válido. Por outro lado, nós três já assinamos um ofício juntos para as emissoras de televisão, porque todas têm repetidoras no Alto da Serra e não pagam um tostão por isso. Hoje, uma pessoa que tem um terreno e aluga para uma torre de celular está aposentada. Nós temos a Globo, Band, enfim, todas as emissoras de rádio e de TV que não pagam nada. 

Viva! Serra Negra – Elas não têm um contrato?

Ricardo Fioravanti - Têm contrato de concessão com a prefeitura para mais de 40 anos sem pagar nada. Duas emissoras me retornaram. Propus que conversássemos com o Poder Executivo sobre o assunto. Poderia ser uma permuta com propaganda. Uma chamada por dia ou a cada dois dias. Para quem não tem nada, o que eles oferecessem já estava bom. Mas eles disseram que só ligamos para eles para perturbar. Eu disse que não liguei, só mandei ofício e disse que se fosse do Executivo mandava desmontar a torre e perguntaria onde queriam que mandasse entregar, porque está aí há 40 anos. E eles acham ruim mandar um ofício convidando para conversar... A Band fez a cobertura do Festival de Inverno cobrando, mas temos de fazer sempre, temos de vender Serra Negra lá fora o ano inteiro. Vender Serra Negra nas férias de julho, com frio? 

Roberto Almeida – De julho para cá é que temos de vender Serra Negra.

Ricardo Fioravanti – Precisamos vender Serra Negra de agosto para frente. 

Roberto Almeida – De maio a julho, esquece.

Ricardo Fioravanti – A partir de outubro começam a chegar os navios. Aí, nós brigamos com as praias, com os navios, que dividem em dez vezes e oferecem seis refeições. 

Leandro Pinheiro – É aí que eu falo que a qualidade de vida, vindo com os negócios, as pequenas convenções, ou seja, de três, quatro mil pessoas, porque as grandes são de dez mil pessoas, que comportamos, mas não o Centro de Convenções. Mas aí as pessoas voltam com a divulgação que é feita da cidade.


Ricardo: empresário contribui
 se as ações forem sérias
Viva! Serra Negra - A prefeitura e empresários serranos lançaram o movimento Todos Por Serra Negra para promover eventos que impulsionem a economia neste segundo semestre. Vocês acham que isso vai dar resultado? Os empresários vão contribuir para financiar os eventos? 

Roberto Almeida – Eu acho que sim. 

Ricardo Fioravanti – Eu também acho que sim. Se for uma reunião preocupada realmente com o movimento turístico e o desenvolvimento da cidade é uma coisa. A partir do momento em que a administração só se preocupar em fazer política é outra coisa. Veja bem, a prefeitura faz reunião nos bairros. Só fazem política. 

Viva! Serra Negra – O projeto prevê que os empresários, os comerciantes, os hoteleiros, os donos de bar, vão ter de participar efetivamente com financiamento, porque a prefeitura não tem recursos. Os empresários vão desta vez participar?

Ricardo Fioravanti – Eu até acho viável o comércio contribuir com uma parte, porque usufrui. O comércio, a rede hoteleira, mas só é colocado dinheiro quando tem retorno e quando parece ser uma coisa séria. Quantas vezes foi tentado fazer algo para o hospital e não andava? Quando se criou uma ONG na qual o promotor tomou a frente, com um juiz de Direito, e fizeram um carnê, as pessoas passaram a contribuir. Quem vai colocar a mão sem seriedade? O pessoal vai investir? Desde que seja sério, acho que sim. Não todos, porque na hora de recolher dinheiro no comércio é uma vida... Há talvez 700 estabelecimentos comerciais em Serra Negra, mas a Associação Comercial só tem 100 filiados. É difícil, mas se tiver um projeto, um plano de ação para isso... 


"Nessas férias de julho já deveríamos
estar vendendo o 12 de Outubro. E 
em 12 de Outubro, o 15 de Novembro" 


Viva! Serra Negra – O que falta para as pessoas acreditarem? Informação, por exemplo?

Leandro Pinheiro – Falta os cidadãos sentirem credibilidade. Na hora que sentirem a credibilidade vai começar a girar mais a coisa.

Viva! Serra Negra – Vocês acham que essas iniciativas da Secretaria de Turismo são de interesse para a cidade ou são eleitoreiras, políticas?

Leandro Pinheiro – Vou falar o que eu acho. Muito do que eles estão fazendo, não é se gabando, mas eu, o Ricardo e o Roberto já estamos batendo nisso tudo faz tempo. Muitas coisas já estamos insistindo, como divulgação, os flyers da cidade para distribuir em feiras, a programação do Festival de Inverno, a programação do Festival de Verão. Tudo já tinha de estar vendido em janeiro. 

Ricardo Fioravanti – Nessas férias de julho já deveríamos estar vendendo o 12 de Outubro. Em 12 de Outubro, já deveríamos estar vendendo o 15 de Novembro. E em novembro, vendendo o Natal.

Roberto de Almeida – Tem de ter uma equipe planejando e outra executando.

Ricardo Fioravanti – Se estiverem preocupados com reeleição, usam as ações para fazer política. 

Leandro Pinheiro – O que eu acho errado é que nós passamos dois anos com Festival de Inverno que não atraiu, não divulgou. Em 2018, o Festival de Inverno começava no dia 2 de julho e foi no dia 29 de junho que terminaram a programação oficial. Isso não pode. Como uma pessoa que está em São Paulo vai se programar com as férias da esposa, dos filhos?

Viva! Serra Negra – Será que este ano não correram atrás mais cedo porque a crise se estendeu muito e poderia afetar ainda mais as vendas de inverno?

Ricardo Fioravanti – Nesse ponto acho que não. Porque em 2017 e 2018 passamos a pior crise do país em 60 anos, e nós vendemos. O inverno sempre lotou. Abril, maio, junho e julho sempre teve gente em Serra Negra. Claro, por outro lado, a percepção do turista que teve aí e viu a banda na praça, o passeio de balão, o paraglider... ele foi embora com outra visão. Nisso eu acredito. Só que, legal, Serra Negra está diferente, bacana, você deu outra roupa. Mas não foi isso que trouxe o turista. 


Leandro: "O mato tinha de ficar
 acima da cabeça para ser cortado"
Viva! Serra Negra – Vocês concordam, então, que o Festival de Inverno foi um sucesso?

Ricardo Fioravanti – Sim, mas não foi o festival que trouxe as pessoas para cá. Elas vêm todos os anos.

Leandro Pinheiro – Daqui para frente é que vamos ver como vai ficar. 

Roberto Almeida – O maior benefício do Festival de Inverno foi a divulgação. Porque Serra Negra, apesar de ser conhecida por parte dos turistas, muita gente não sabe exatamente onde fica a cidade. Alguns nunca ouviram falar de Serra Negra. A cidade é conhecida por uma faixa etária mais elevada. Hoje, é muito mais conhecida. O grande ganho desse Festival de Inverno foi a divulgação. A divulgação foi uma coisa importante. Foram feitos vários eventos, shows, não podemos tirar o mérito do atual secretário nem da anterior porque, pelas informações que tenho do pessoal ligado ao comércio, é que muita coisa já estava sendo planejada antes de o secretário assumir. Isso é uma coisa que tem de continuar e aproveitar a carona. Seria importante nesse sentido o que o Ricardo falou sobre as antenas do Alto da Serra.

Leandro Pinheiro – Isso. Para ampliar a divulgação. 

Roberto Almeida - Não precisam falar de Serra Negra todos os dias, mas podem fazer chamadas a cada dois dias, três vezes na semana. Pode ser uma chamada como “Conheça Serra Negra”. Entra o que o Ricardo fala de utilizar o Alto da Serra. Acho que aí a cidade já teria um ganho, porque hoje em dia tudo é marketing.

Viva! Serra Negra – Essa estratégia pode até ser útil para informar a população sobre a importância do turismo para levantar recursos para investimentos em outras áreas, não?

Leandro Pinheiro – Para ter o social precisa do capital.

Roberto Almeida -  Eu vou mais além, o cidadão precisa entender que para ter uma saúde boa tem de cumprir com os objetivos dele. 

Ricardo Fioravanti – Na minha primeira campanha, na Nova Serra Negra, numa conversa, percebi que as pessoas não entendem que tem dotação orçamentária para a saúde, para a educação. E acha que pode pegar o dinheiro e colocar tudo numa área só e que não dá para tirar de uma e colocar na outra. Quase apanhei quando falei da necessidade de investir em turismo. Se você pega 15% da saúde, 15% de R$ 100 milhões, são R$ 15 milhões. Só teremos R$ 30 milhões para a saúde, se dobrarmos o faturamento para R$ 200 milhões. Não temos como pegar R$ 30 milhões sem elevar o orçamento. Não consegui explicar isso para as pessoas, que me acusaram de estar preocupado apenas com o meu comércio.

Viva! Serra Negra – Recebemos no nosso portal reclamações de serranos de que a administração municipal só se preocupa com os turistas.

Leandro Pinheiro – Acho que há essa insatisfação porque nos últimos 13 anos Serra Negra se preocupou em fazer muita coisa para o Centro e pouco para os bairros. Estou falando de manutenção. Então, o que acontece? Tirando um bairro específico, o Bairro da Serra, os outros ficaram esquecidos. Enquanto um bairro tinha lazer e diziam até que teria shopping, outros bairros ficaram esquecidos em manutenção. Esperavam o mato subir acima da cabeça para cortar. Esperavam ter vários buracos para depois tapar. 

(Leia amanhã a segunda parte da mesa redonda com os três vereadores da oposição)

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