//ENTREVISTA// Magaldi, entre a política e a medicina (3)

Rodrigo Magaldi: "Não aceito que digam que faço as coisas para sair na foto"

Salete Silva e Carlos Motta

Na terceira e última parte da entrevista que deu ao Viva! Serra Negra, o vice-prefeito Rodrigo Magaldi rejeita as críticas de que ganha muito ou que não deveria ter salário em seu cargo no Executivo - "Quer ver se meu salário paga o meu telefone?", diz - e não confirma se será candidato a algum cargo na eleição municipal de 2020: "Ano que vem é outro ano, mas a gente não sabe como vai ser o andamento das coisas. Tenho de ajudar quem eu acredito e acredito no prefeito Sidney."

Também rebate aqueles que dizem que o verdadeiro poder em Serra Negra é exercido pela família Chedid, embora ressalte o trabalho do deputado estadual Edmir Chedid (DEM) em prol da cidade: "Ele traz verba toda hora", afirma.

Magaldi confessa que não está satisfeito com o governo Bolsonaro, que não votou nele no primeiro turno da eleição presidencial do ano passado, mas que acredita que ele vai ainda fazer um bom governo. E critica fortemente a PEC que impôs um teto para os gastos públicos: "Ela congelou os investimentos em saúde. Isso vai repercutir por mais de 20 anos, já afundou o país na área da saúde."

A seguir, a íntegra de sua entrevista: 

Viva! Serra Negra – A oposição diz que muitos das ações da prefeitura, como a aquisição de veículos novos, é iniciativa de campanha e que já se estaria utilizando a máquina administrativa, como foi no processo de campanha passada, mas que já foi arquivado.
Rodrigo Magaldi – A campanha Outubro Rosa já existia havia cinco anos, eu fazia programa todas as quartas-feiras na rádio e sempre fizemos a campanha e vamos continuar fazendo. Isso é para conscientizar sobre o câncer de mama. Trazer a carreta que faz o exame foi campanha? Fizemos 1.180 exames, foi campanha? Estão falando que as obras são campanhas... Demora-se para receber dinheiro. O Dade [Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias] é complicado, leva tempo. A Aprecesp [Associação das Prefeituras das Cidades Estância de São Paulo] deu uma cortada grande. Agora teve um descontingenciamento interessante. Tivemos uma reunião em Bragança Paulista com o Rodrigo Garcia [vice-governador de São Paulo], que deverá liberar verba para a gente. Mas é complicado. Queria entrar aqui e ter dinheiro sobrando para usar. Temos de olhar um pouco o gramado do vizinho para ver o quão verde é o nosso. Há cidades vizinhas sem pagar funcionário, sem pagamento de médico, fechando hospital. Será que isso é campanha? É campanha colocar um segundo médico, colocar uma ambulância nova para levar o pessoal para Barretos para fazer tratamento de câncer, a dois anos das eleições? Não acho que isso é campanha.

Viva! Serra Negra – E com relação a salários. Você tem um salário e seu cargo é de expectativa, ou seja, teoricamente só assume quando o prefeito está ausente. Você acha que seu salário é necessário?
Rodrigo Magaldi – Recebo hoje líquido R$ 5 mil por mês. Todos os dias estou totalmente à disposição. Quer ver se meu salário paga o meu telefone? Eu te mostro. Não posso falar dos outros, mas eu estou à disposição 24 horas por dia, todos os dias. 

Viva! Serra Negra – O seu cargo de vice-prefeito, então, não é de expectativa, você está sempre trabalhando?
Rodrigo Magaldi – Dizem que é um cargo de expectativa. Mas eu atendo o público, me disponho sempre a ir em todo o lugar. Vou na feira todo sábado e domingo comer pastel, vou nas escolinhas de futebol, fizemos porco no rolete nas escolas, na época do prefeito Paulinho, não é de agora. Não aceito que digam que faço as coisas para sair na foto. 

Viva Serra Negra – O prefeito tem divulgado mais suas ações?
Rodrigo Magaldi – Tentamos tirar o prefeito do gabinete, porque ele atende o dia inteiro. É muita gente. Ele conhece todo mundo e muita gente vem para conversar, pedir as coisas, consultas, poda de árvore... Meu cargo é de expectativa. É. Eu espero estar como prefeito, não. Sou médico, continuo médico e vou atender como médico sempre.

Viva! Serra Negra – Você está dizendo que não tem a aspiração de ser prefeito? E não vai ser candidato no ano que vem?
Rodrigo Magaldi – Eu tenho de ser médico de qualquer maneira. Ano que vem é outro ano. Mas a gente não sabe como vai ser o andamento das coisas. Tenho de ajudar quem eu acredito. Acredito no prefeito Sidney. Sei o que ele faz, sei o quanto modesto é, sei que é gente que põe dinheiro do bolso, trabalha o dia todo, está deixando a saúde de lado, estava ontem a uma hora da manhã tomando soro no hospital. E depois estava na reunião do Conisca e do Contur do Circuito das Águas. A gente negligencia a família.

Viva! Serra Negra – Você acha que está preparado para ser prefeito?
Rodrigo Magaldi – Não. Acho que a gente tem de ajudar quem acredita. Amanhã, se não tiver candidato... A oposição é justa, vamos colocar um candidato da oposição, vamos. Ele vai fazer o bem da cidade, vamos apoiá-lo. 

Viva! Serra Negra – Você traria mais benefícios à cidade no cargo de prefeito ou de deputado?
Rodrigo Magaldi – Minha ideia é muito campesina, muito regional, muito local. Vim para Serra Negra para ficar aqui. Já temos um deputado da região, que é o Edmir Chedid. É a família que tem relação com tudo o que tem em Serra Negra. Ele traz verba toda hora. Eu vi o Jesus Chedid [ex-prefeito de Serra Negra, atual prefeito de Bragança Paulista, pai do deputado Edmir Chedid e do ex-prefeito de Serra Negra Elmir Chedid] dizendo para o governador Alkmin que ele não teria um voto aqui se não viesse recursos da Aprecep para Serra Negra. Se acham que o Jesus manda aqui, está errado. Ele está em Bragança, cheio de encrenca, fazendo uma baita de uma administração. O deputado nascido aqui está toda hora aqui. E a gente está pedindo para ele a toda hora. Mas quem manda na cidade é Sidney Ferraresso. Estamos em tempos difíceis.

Viva! Serra Negra – Falando em tempos difíceis, o que você acha  do governo Bolsonaro.
Rodrigo Magaldi – É muito complexo. Meu candidato era o Alckmin. Bolsonaro cresceu bastante e acreditei que não podia continuar a situação que estava. Corrupção muito forte, quando a gente vê uma criança morrer no hospital e a gente sabe que idealiza que esse dinheiro foi roubado e a gente cria uma “reiva”. Depois que a gente viu que não tinha como, fomos no Bolsonaro.

Viva! Serra Negra – Você acredita no Bolsonaro?
Rodrigo Magaldi – Acredito piamente que ele pode fazer um bom governo. Seis meses, sei que já podia ter feito, mas é um período curto. Acho que a governabilidade é difícil. Essa Previdência, não espere curto prazo. Está errado, porque financeiramente não vamos ver isso tão cedo. A reforma da Previdência é necessária, vai ter um corte de R$ 1,4 bilhão. A PEC do teto do gasto congelou os investimentos em saúde. Isso vai repercutir por mais do que 20 anos. Isso já afundou o país na área da saúde. Espero que tenha ideia de fazer parceria pública-privado, porque senão vai ser muito ruim. A reforma financeiramente não vai ter impacto muito grande, mas depois vem a tributária.

Viva! Serra Negra – A Prefeitura de Serra Negra é uma indutora de desenvolvimento, sem ela a iniciativa privada não iria tomar a iniciativa de investimentos, e no governo Bolsonaro, por meio das declarações do ministro Paulo Guedes, entende-se que o governo deveria se retirar dessas coisas e deixar a iniciativa privada fazer. Então, Serra Negra está na contramão?
Rodrigo Magaldi – A gente falou do Estado menor. Não é muito inteligente. Temos de ter parceira. No Balneário Municipal, por exemplo, a prefeitura não tem condições de mantê-lo, então uma empresa para mantê-lo é importante. Isso vai gerar uma quantidade considerável de empregos. Estou falando do turismo de forma geral. Não temos condições de manter o Centro de Convenções. Lá tem de ter 70 funcionários trabalhando direto e mais 400 indiretos, pelo menos, para vender eventos em Campinas, em Viracopos. Sem Estado alguém vai construir um balneário, um centro de convenções desses? A Igreja Quadrangular construiu e está com dificuldade para tocar, porque é muito grande, muito custo, foi um investimento de R$ 40 milhões. Estamos pegando de volta o Grande Hotel, depois de uma ação na Justiça, depois de 20 anos, mas alguém vai dizer que é uma ação eleitoreira. 

Viva! Serra Negra – A prefeitura vai explorar ou vender?
Rodrigo Magaldi – Não sabemos ainda. Tem uma parte da Embratur para negociar, ainda. Mas não sabemos se vamos montar um hotel-escola, se vamos fazer uso de prédio público. O acordo ainda está em andamento. Provavelmente para janeiro e fevereiro do ano que vem a gente consiga reintegrar o hotel. É de suma importância, porque é geração de emprego. Não estou feliz com o governo. Se a pergunta é essa, acho que o governo tem de sair da mídia, descer do palanque e governar. 

Viva! Serra Negra – Quais são seus hábitos de consumo em Serra Negra?
Rodrigo Magaldi – Passeio muito em Serra Negra. Toda semana estou na praça. Tenho um grupo de amigos, que se encontra no Roberto Ciamdrighi, jogo sinuca em bar, gosto de tomar uma cervejinha, gosto de churrasco, me divirto, saio pouco de Serra Negra, vou ver minha família em Campinas. Agora em agosto fico 15 dias fora, terceira férias que tiro.

Viva! Serra Negra – O engessamento dos investimentos de saúde vai levar à privatização dos serviços públicos?
Rodrigo Magaldi – Hoje é o inverso. Há uma migração absurda dos planos de saúde para o setor público. Mas acho que sim, não sei se vai para a privatização. Os remédios mais caros o governo tem segurado muito. Como fazer uma política igualitária, se vou dar uma insulina que custa R$ 1 por dia em 30 dias e um remédio de alto custo de R$ 12 mil para outro? Esse engessamento da PEC vai fazer falta. 

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