//ENTREVISTA// Magaldi, entre a política e a medicina (2)

Rodrigo Magaldi: "Tem muita gente ruim na política"

Salete Silva e Carlos Motta

Na segunda parte da entrevista que deu ao Viva! Serra Negra, o vice-prefeito Rodrigo Magaldi diz que o maior problema da cidade é o emprego e que o setor de turismo tem de receber mais atenção para que a crise econômica por que passa o Brasil não atinja em cheio o município. "O mercado de trabalho nosso é restrito a lojas, hotelaria. A geração de emprego nossa é complexa, porque não temos grandes indústrias e isso dá uma amarrada no braço empregatício que a gente poderia ter", afirma.

Magaldi ressalta que o Festival de Inverno deste ano foi um sucesso, conseguindo atrair para Serra Negra um número recorde de turistas. Para ele, a solução mais imediata para trazer divisas para a cidade é promover mais eventos: "Quero o festival de inverno o ano inteiro", diz. 

Ele também fala da importância da parceria entre o poder público e o setor privado para o desenvolvimento da cidade e do seu relacionamento com os vereadores que fazem oposição à atual administração. "Não acho que a política seja suja. Acho que tem pessoas sujas na política", diz.

A seguir, a segunda parte de sua entrevista ao Viva! Serra Negra: 

Viva! Serra Negra – Como foi sua experiência no período de 20 dias como prefeito interino? Deu para sentir as carências da população?
Rodrigo Magaldi – Na verdade, como atendo muita gente, acho que, não que sou qualificado para entender a carência, mas a gente está lá com o povo sempre, então a gente vê e fica sabendo quais são os problemas.

Viva! Serra Negra – E quais são os problemas?
Rodrigo Magaldi – Vejo Serra Negra como um diferencial entre outras cidades onde a gente viveu. Eu morei em Santos, Campinas, São Paulo, então, Serra Negra é um diferencial. O grande problema de Serra Negra é emprego. O mercado de trabalho nosso é restrito a lojas, hotelaria. A geração de emprego nossa é complexa, porque não temos grandes indústrias e isso dá uma amarrada no braço empregatício que a gente poderia ter.

Viva! Serra Negra – Não falta um plano de desenvolvimento econômico que dê um norte à criação de empregos?
Rodrigo Magaldi – Acho que sim, mas a gente tem alguns entraves que são complicados. O turismo, a estância... é muito difícil. O que move, vocês viram esse festival de inverno, nunca Serra Negra, pode dizer o que for, pode criticar, mas nunca Serra Negra na história teve gente como teve ou teve a propaganda que teve.

Viva! Serra Negra – A propaganda impulsionou o inverno, uma vez que o país está em crise. Se comparar com os números da economia, Serra Negra teve um bom movimento de inverno, o movimento em Serra Negra é muito diferente dos indicadores econômicos do país, não é?
Rodrigo Magaldi – Sim, os números são completamente diferentes. Se o comércio no geral aumentou 2%, aqui aumentou 30%. A hotelaria nossa, com 120% de ocupação, com 8.500 leitos, mais 2.300 extras...

Viva! Serra Negra – Retomando a pergunta sobre emprego, você acha que tem alguma solução?
Rodrigo Magaldi – O turismo, temos de estender essa sazonalidade do inverno para o ano inteiro. Temos de bolar eventos para isso, o que quero é o festival de inverno para o ano inteiro. Natal no ano passado já foi muito bom, ano retrasado também, a despeito da crise. A gente está inserido num contexto de crise, não dá para ser independente do que está acontecendo no país, porque não é justo nem verdadeiro. Mas acho que estamos demonstrando essa contramão. Cidades vizinhas, que tinham festivais, estão sem ninguém. Tem um pouco de gente em Monte Alegre do Sul, na festa do morango, e gente aqui em Serra Negra que não vinha há muito tempo. A gente recebeu aqui semana passada, gente que não vinha há 15 anos e que viu a cidade na televisão. Gente da Baixada Santista e que voltaram a Serra Negra. Foi um grupo grande. Para gerar emprego nesse nosso perfil a ideia é essa. Temos um funcionalismo eficiente, 1.080 empregos, é uma geração importante em 28 mil habitantes. Temos de trabalhar para que a gente consiga abranger essa história de inverno, trazendo eventos, congressos, trazendo a lotação possível, incluir eventos de igrejas, temos dois já, com 4 mil pessoas cada um...

Viva! Serra Negra – Você tem mais ideias, o que a administração está fazendo para captar esse interesse das pessoas em vir para Serra Negra, usar o Centro de Convenções?
Rodrigo Magaldi – O Centro de Convenções está subutilizado. Quem a gente traz aqui fica louco com o Centro de Convenções. O secretário de Turismo do Estado esteve aqui e ficou abismado em ver o que a gente tem aqui. Fizemos um investimento da ordem de R$ 1 milhão para atender exigências dos bombeiros e para a acessibilidade. Estamos fazendo isso agora no Cristo Redentor. Não é falar de administrações anteriores, o Bimbo e o Paulinho fizeram. Não é questão política. A acessibilidade no Cristo é necessária. Tem o Alto da Serra, que a gente quer transformar na capital do voo. Tem os balões, que já estão fazendo com que Serra Negra seja chamada de Turquia brasileira e Capadócia.


"Não tenho nada a
esconder, não preciso da
política para me
trampolinar"
Viva! Serra Negra – Tem aí a participação importante da iniciativa privada...
Rodrigo Magaldi – Sim, mas eles pousam onde? Quem auxilia para fazer o pouso, a limpeza de pista, o transporte? Quem faz a liberação de segurança, quem vistoria junto com o clube do voo? Não estou tirando os méritos do clube de voo, por favor. A parceria é importante. Se não houver parceria, a coisa não anda, porque o poder público é engessado. Temos planos de investimentos para o Alto da Serra de R$ 500 mil. Vamos fazer o espetáculo lá, mas já é espetáculo. Por que não fez anteriormente? Conseguimos capitalizar uma equação hoje, público/privado, que está funcionando. Fechamos o pouso lá e a prefeitura é quem banca.

Viva! Serra Negra – O que mais tem de investimento?
Rodrigo Magaldi – Os investimentos em esportes, a quadra do Campo do Sete, os banheiros, que não tínhamos. Tem o Discão que estava lá parado. Temos investimentos nas frotas de veículos...

Viva! Serra Negra – A população reconhece, na sua avaliação, que investimento em turismo é que vai trazer empregos?
Rodrigo Magaldi – Esse período temos de reverter para o turismo, mas vai ao encontro com o que a gente acabou de falar: saúde com mortalidade zero, isso não é para turista. Não morre mais o filho de quem mora aqui. Escola nossa é a quinta melhor do Estado. E quem diz isso é o Índice de Oportunidade no Ensino Brasileiro, dizendo que somos a 18ª do Brasil.

Viva! Serra Negra – E como fazer com que a população compreenda isso?
Rodrigo Magaldi – Não é uma questão de convencimento, é questão de criação de oportunidades. Se a gente conseguir jogar este festival de inverno, essa exteriorização, não só de mídia, que mostrou sua força... Mas sozinha ela não faz nada. Se o festival de inverno fosse ruim, só a mídia não traria esse monte de gente nem fazer vender o que se vendeu em bares e no comércio. Entendo essa necessidade de ter um plano de geração de trazer uma megaempresa para cá. Isso é mais complexo. Vamos atrelar esse festival, investir nos pontos turísticos, em mídia e lançar um aplicativo que estamos fazendo.

Viva! Serra Negra – Como é esse aplicativo?
Rodrigo Magaldi – Deverá ser lançado em começo de agosto. É um aplicativo que agrega conteúdo, incluindo emprego, pontos turísticos, guia comercial, fala da cidade, notícias, principais pontos turísticos. É algo muito novo. Quando nos foi apresentado, no começo do ano, só duas cidades no Brasil tinham, agora já tem em outras. Era vanguarda, não existia. Desenvolveram por um custo muito alto, mas como já tinham feito o desenvolvimento, estavam fazendo uma parceria, para a gente sai num preço muito baixo. Menos de R$ 20 mil por ano. Esse aplicativo, no celular terá horário de ônibus, obituário, orientações gerais, clima, trânsito, horário de loja, link de ouvidoria e depois a liberação comercial, para que a empresa privada ajude a bancar. Isso já se faz em Gramado. A lei aprovada pela Câmara que permite o patrocínio privado vai viabilizar muita coisa para gente. 

Viva! Serra Negra – Serra Negra vai investir para ser uma cidade inteligente?
Rodrigo Magaldi – Fomos num Congresso de gestão pública e fomos muito elogiados pelo Doria [João, governador do Estado de São Paulo], mas levamos um puxão de orelha em relação à cidade inteligente, ao Wi-Fi, tecnologia de informática. Então a ideia, com a liberação do patrocínio, é fazer. Ainda com relação a emprego, estamos fazendo feiras noturnas que estão um sucesso. Temos uma área grande, uma agricultura familiar que faz venda grande. Com a ajuda do Chicão [Francisco Bertan, diretor de Cultura] podemos ampliar. Tem um pessoal já pedindo feira na sexta-feira. Vamos ver se conseguimos fazer. Isso faz girar a economia local: o dinheiro fica aqui.

Viva! Serra Negra – O que você acha da atuação da oposição na Câmara?
Rodrigo Magaldi – Oposição é oposição. Volto a dizer que tem situações que a gente se sente até agredido. Passei recentemente uma situação em que a minha mãe sofreu muito, porque quando se fala em enriquecimento ilícito, em atender 100 consultas em duas horas, há uma diferença grande aí. Vá ver como atendeu e quem atendeu... Mas quando fala de “caso de amor esdrúxulo”, não conheço amor esdrúxulo. Nunca tive. A Barbara é minha companheira. Não sou casado com ela, mas ela é minha companheira, sim, mora comigo, mas ela era secretária de Saúde antes de eu ser vice-prefeito. Ela montou o sistema de saúde de Monte Alegre. A Cipa de grande parte das empresas de Amparo foi ela quem montou. Mas a oposição é justa. As demandas opositoras são excelentes, o Roberto [Sebastião de Almeida, vereador pelo PTB], entra em contato, o Leandro [Gianotti Pinheiro, vereador pelo PV], já tive oportunidade, o próprio Toco [Ricardo Fávero Fioravanti, vereador pelo PDT], já tive oportunidade. O que for pelo bem da cidade... A gente não vai deixar de receber verba da cidade porque ele é do contra. Isso é importantíssimo para a cidade. Mas quando parte para algo desleal...

Viva! Serra Negra – Você acha que este é o lado escuro da política? Como médico de formação, como você entrou na política, que tem esse lado "sujo"?
Rodrigo Magaldi – Não acho que a política seja suja. Acho que tem pessoas sujas na política.

Viva! Serra Negra – Como você se relaciona com elas?
Rodrigo Magaldi – Meu pai foi presidente da Câmara em Limeira. Fui candidato a vereador em Campinas em 2004 e tive a maior votação da história do PV em Campinas, mas não fizemos o coeficiente mínimo para adentrar à vereança na época. Mas sempre tive uma ideia política do que se podia fazer, de amplificar o que se faz no consultório, por exemplo, para o público. Acho que é funcional. Realmente tem muita gente ruim na política. Essa gente que, ao invés de criticar, de levantar uma demanda que não é correta, deveriam ir lá, conhecer o bairro, ver o que precisa. Votar a favor do que a gente está fazendo, por exemplo, que é fechar o bairro inteiro da Nova Serra Negra de asfalto. São 28 ruas que estão lá para serem asfaltadas, quase 1.300 famílias, quase 4 mil pessoas sem asfalto e o vereador da oposição votou contra. Essas coisas têm de ser ditas. Está preocupado com o posto da Nova Serra Negra? Vá lá. Faça uma diligência. Pergunte ao povo.

Viva! Serra Negra – Alguns vereadores da oposição têm muita estima pessoal por você...
Rodrigo Magaldi – Eu agradeço. Às vezes a pessoa tem uma ideia... Falo pelo cotovelo. Mas sou desse jeito. Vim para Serra Negra rico. Vim de Porsche, comprei a melhor casa de Serra Negra, a casa redonda. Não tenho nada esconder. Minha família tem posses. Trabalharam muito para isso. Somos cinco irmãos médicos e não preciso da política para me trampolinar, ao contrário.



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