//ARTE// A cidade ganha um cineclube

"Azul da Cor do Mar" é um dos curtas que serão exibidos nesta quinta-feira

A população de Serra Negra vai voltar a poder assistir filmes fora de casa, mas não num cinema tradicional nem produções comerciais - nesta quinta-feira, 4 de julho, o recém-criado Kanemo Cineclube estreia a sua programação, exibindo os curta-metragens "Tempo é Morfina" e "Azul da Cor do Mar", além dos documentários "Pra não Dizer que não Deixei Lembranças " e "Desvio". O ingresso é gratuito.

As sessões do Kanemo serão sempre às quintas-feiras, às 18h30, no Palácio Primavera, na Praça Sesquicentenário. Os filmes escolhidos para as seis primeiras semanas fazem parte do acervo do Instituto Querô, de Santos, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, sem fins lucrativos, que desenvolve projetos usando o audiovisual como ferramenta para transmitir valores, desenvolver o empreendedorismo e promover a capacitação e o acesso de jovens em situação de risco social ao mundo de trabalho. Fundado em 2006, ele se tornou uma referência de escola social de audiovisual, documentado pela BBC e reconhecido pelo Unicef, o Fundo das Nações Unidos para a Infância.

Por seu engajamento social e compromisso em expandir e valorizar o cinema independente nacional o Querô foi escolhido para dar início ao projeto do Kanemo Cineclube. Numa diversificada mostra, serão exibidos mais de 20 filmes, uma seleção especial com alguns dos melhores curtas metragens já realizados pelo Querô.


Cíntia: cinema
independente acessível
Quem está à frente do Kanemo é Cíntia Marília Santos Bertini, formada em rádio e TV pelo Centro Universitário Monte Serrat, de Santos. Cíntia morou cinco anos em Moçambique, país africano de língua portuguesa, e lá teve a oportunidade de colaborar com o Kugoma, Fórum de Cinema de Curta Metragem, de trabalhar em festivais de cinema, produção de videoclipes e peças publicitárias e como editora de conteúdo na TIM, a Televisão Independente de Moçambique.

Esse período em que esteve em Moçambique, disse, permitiu que ela expandisse seus conhecimentos nos diferentes setores que compõem o audiovisual, da concepção e roteirização de projetos para TV e cinema à sua produção e finalização. O projeto do Kanemo Cineclube, explica, visa tornar o cinema independente acessível a toda população de Serra Negra.

No depoimento abaixo, exclusivo para o Viva! Serra Negra, Cíntia conta porque resolveu levar adiante seu projeto na cidade, quais os seus objetivos e compromissos, a importância do cinema independente e qual o significado de "kanemo", o nome que escolheu para o cineclube.

Por que criar um cineclube em Serra Negra?

O clima animado trazido pelo Festival de Inverno da cidade este ano é extremamente propício às manifestações culturais em sua pluralidade, então pegamos carona nessa programação variada que se estenderá durante julho para darmos início às atividades do Kanemo Cineclube.

Em parceria com a Diretoria de Cultura apostamos no poder enriquecedor da experiência do cinema no ambiente social, apenas intuindo o quão produtiva poderia ser essa união de forças, incentivando a formação de público.

O que nos une é a vontade de intervir na realidade do mundo, a partir do desejo de despertar e entender a construção da imagem da sociedade por meio da cultura cinematográfica, criando assim uma identidade conceitual, que vem a ser o modo particular com que o grupo olha para o mundo atual e reconhece si mesmo.

Fazer cineclube é também resgatar o prazer de ver filmes coletivamente, incentivando um debate descontraído, propiciando um ambiente sadio para o florescer de novas ideias. Nosso objetivo é oferecer ao nosso público um conteúdo diferenciado, a arte cinematográfica em suas diversas formas - curtas, longas, animações... - e também em suas múltiplas linguagens - ficcional, documental e experimental. 

E é com esta proposta que o Kanemo Cineclube vem convidar a todos os serranos, visitantes e moradores da região, a prestigiar o cinema independente. 

O compromisso do Kanemo Cineclube

Cena do curta "Pra Não Dizer que
não Deixei Lembranças"
O Kanemo Cineclube é um projeto independente sem fins lucrativos e surgiu em resposta à necessidade de suprir o que os cinemas comerciais não conseguiram em nossa cidade. Ele busca promover o cinema de forma democrática, fornecendo conteúdos cinematográficos diversificados e de qualidade, com filmes não convencionais. Quer contribuir para o desenvolvimento cultural e social da cidade, beneficiando a população local ávida por atividades culturais desse contexto.

Temos por compromisso estabelecer em Serra Negra um local permanente de estudo e debate cinematográfico, sensibilizando a população por meio da sétima arte e estimulando o hábito cultural.

O Kanemo também quer ser referência no âmbito cultural da região, formador de público e opinião, impactando positivamente a economia local e se tornando uma nova opção de entretenimento, além de atingir a camada da população menos favorecida, contribuindo para o aprimoramento do senso crítico, resgate e inserção social.

O cinema independente

Quando o assunto é cinema, todo mundo pensa em pipoca, refrigerante e filmes hollywoodianos. Contudo, muito mais que entretenimento e lazer, a sétima arte é uma expressão artística que transmite cultura por meio das histórias que narra em suas telas. Por ser um forte meio de comunicação de massa, o audiovisual é capaz de discutir ideias e de influenciar o pensamento e as atitudes dos espectadores.

Além disso, a produção cinematográfica é uma grande indústria, que impacta fortemente a economia mundial. E não são apenas as grandes produções financiadas que estão ganhando espaço, os filmes independentes também estão. A confirmação disso é a dimensão e notoriedade que festivais de cinema vêm ganhando, como o consagrado Festival de Cannes, mundialmente conhecido e disputado por projetar cineastas e filmes independentes.

No cenário nacional a valorização e estímulo da dimensão econômica das atividades culturais e criativas evidenciam as contribuições do setor para o desenvolvimento do Brasil. Isso sem deixar de lado as demais dimensões da cultura, sobretudo no que diz respeito à ampliação do acesso da população a bens e serviços culturais.

As atividades culturais e criativas são vocações da sociedade brasileira e constituem um setor dinâmico da economia e da vida social do país. Elas apresentam elevado impacto sobre a geração de renda, emprego, exportação, valor agregado e arrecadação de impostos. Têm ainda uma influência crescente no dia a dia dos cidadãos, contribuindo decisivamente para a formação e a qualificação do capital humano e para o reforço de elos identitários. Cultura gera renda, gera emprego, gera inclusão e, acima de tudo, gera futuro.

A origem do nome Kanemo

Surgido o ímpeto de criar-se um espaço dedicado ao culto da sétima arte, deparamo-nos logo com o primeiro impasse: que nome dar ao projeto? Essa foi uma das missões mais difíceis, pois esse é um fator determinante para nosso sucesso, que nos daria identidade, caracterizaria e distinguiria de tantos quantos existem por aí.

Em busca de uma expressão que melhor representasse as atividades do cineclube, fomos às pesquisas e voltamo-nos às origens.

A palavra “cinema” tem a sua origem no francês “cinéma”, que é uma abreviação de “cinématographe”, nome dado pelos irmãos Lumière à sua invenção, o cinematógrafo. Cinema origina-se do grego “kinema”, que por sua vez significa “movimento”, ou seja, a técnica de fixar e reproduzir imagens que suscitam impressão de movimento.

Quando foi fundado o Instituto Nacional de Cinema de Moçambique em 1975, Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique independente, investiu fortemente na produção de cinema, como ferramenta de comunicação e transformação social. Assim criou um cinejornal informativo destinado à população chamado “Kuxa Kanema”.

Em changana, língua falado na região sul de Moçambique, país africano banhado pelo Oceano Índico, “Kanema” é a palavra que designa cinema. Uma das empresas pioneiras em produção cinematográfica do país escolheu o nome “Kanemo”, que é uma variação linguística moçambicana da palavra “Kinema”. Por essa razão, por sua sonoridade e simbologia, como forma de homenagear o cinema, usando palavras que exaltassem sua força e significação histórica, escolhemos a palavra moçambicana Kanemo.

As sinopses dos filmes desta quinta-feira


Cena de "Tempo é Morfina", que
integra o programa de quinta-feira
"Tempo é Morfina" (ficção, 17' 31''): Os últimos momentos de um casal antes de se separar por tempo indeterminado revelam a tensa preparação de Eliane e a difícil decisão de Jobson.

"Para não dizer que não deixei Lembranças" (documentário, 14' 7''): Quase uma viagem no tempo na vida dos moradores do Asilo Lar Vicentino, em São Vicente. Por meio de histórias emocionantes e engraçadas são detalhados momentos especiais dos idosos, que revelam seus sentimentos e viram personagens do cinema durante uma sessão de fotos realizada no asilo.

"Azul da Cor do Mar" (ficção, 12' 17''): Conta a história de Beto, um jovem de 14 anos que vive no interior de São Paulo e sonha conhecer o mar. Seu desejo vira realidade em um passeio feito por sua professora de ciências. Paralelamente a essa paixão, Beto tem um amor platônico por uma das meninas da escola: a garota de olhos azuis da cor do mar. 

"Desvio" (documentário, 8' 52''): O dia a dia de mulheres que saíram do padrão e colocaram o pé na estrada. Os altos e baixos da profissão narrado por duas caminhoneiras da baixada santista.

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