//OPINIÃO// O prefeito e a solução mágica


Carlos Motta

No encontro com moradores do Bairro dos Francos, na noite de terça-feira, para apresentar o projeto de revitalização do Parque Fonte São Luiz e anunciar a construção de uma Unidade Básica de Saúde no local, o prefeito Sidney Ferraresso (DEM) informou às cerca de 40 pessoas presentes - metade formada por sua comitiva - que atualmente está difícil conseguir verbas, federais ou estaduais, para obras. "O governo Bolsonaro está emperrado", afirmou.

A frase está corretíssima. 

O governo Bolsonaro, realmente, nesses seus cinco meses de vida, não apresentou uma proposta sequer para tirar o país da crise econômica, diminuir o desemprego, investir em obras de infraestrutura - que criam empregos -, estancar o processo acelerado de desindustrialização do país, aumentar a renda média dos trabalhadores, promover o crescimento da receita, diminuir a relação dívida pública/PIB, que subiu vertiginosamente dos governos do PT para cá...

Por tudo isso, e por concentrar todo o seu esforço em provocar atritos diários com todos os que não lhe são simpáticos, a impressão que se tem é que o Brasil está jogado ao Deus dará - como se diz popularmente. Ou presidido por um fanático por armas com toques de religiosidade, moralismo e visão do mundo ultraconservadores, que não tem a menor aptidão para exercer o cargo para o qual foi eleito.

O prefeito Sidney, portanto, quando disse aquela frase, acertou na mosca.

Porém... 

Bem o problema todo é que, em seguida, talvez por ter percebido que o que afirmou não é exatamente aquilo que pensa o seu grupo político, um aglomerado de siglas partidárias que pendem pesadamente para o que se convenciona chamar de "direita", o prefeito Sidney fez uma ressalva que o redimiu completamente por qualquer pecado oratório que tenha cometido, pelo menos perante seus próceres:

- Quando a reforma da Previdência sair, tudo vai mudar. Acho que demora mais uns dois meses, mas com a sua aprovação, o governo deslancha, vão vir muitos investimentos para o Brasil, estou confiante de que com essa reforma tudo vai melhorar.

E assim o prefeito Sidney voltou ao trilho pelo qual caminha parte da sociedade brasileira - uma parcela pequena, diga-se - , que investe pesadamente numa aventura que provocará um cataclisma social no país. 

Pois é exatamente isso que advirá com a aprovação dessa proposta cínica em sua crueldade para com a imensa maioria dos brasileiros, cujos resultados são assim definidos pelo jornalista, analista e consultor Antônio Augusto de Queiroz, diretor de comunicação licenciado do Diap:

"O sentido final da reforma é, por um lado, reduzir a despesa pública com Previdência e Assistência Social e impedir o crescimento dessas despesas para que o teto de gastos da Emenda Constitucional 95, de 2016, seja cumprido. A economia pretendida é de R$ 1,2 trilhão em 10 anos, e R$ 4,4 trilhões em 20 anos, e desse total entre 81 e 92% virão do RGPS e da redução de direitos como abono salarial e benefício assistencial de idosos e deficientes. Por outro lado, a implantação do regime de capitalização acarretará perdas de arrecadação para o RGPS e RPPS, estimadas em valor equivalente ao da economia pretendida, ou seja, os tesouros terão que continuar arcando com a despesa, mas sem ter a receita das contribuições. Essa enorme quantidade de dinheiro passará a ser gerida pelas seguradoras privadas, repetindo o que aconteceu no Chile, onde após 35 anos, os trabalhadores descobriram que suas aplicações só eram suficientes para pagar benefícios bem inferior à sua renda, e até mesmo menores que o salário mínimo. Os bancos e administradoras de fundos de pensão chilenos, porém, não têm do que se queixar."

O prefeito Sidney, quando, nos passos do ministro da Economia, atribuiu poderes mágicos à pretendida reforma da Previdência, talvez não tenha sido alertado sobre os seus malefícios. Ou talvez acredite mesmo que ela seja como um deus ex machina que vai surgir dos céus para resolver toda essa confusão em que está metido o país desde o golpe contra a presidenta Dilma. 

Se não for isso, e então o prefeito Sidney realmente crê que a reforma tem embasamento técnico e lógica conceitual, tenho a impressão de que ele foi enganado por alguém que lhe contou esse conto da carochinha. Não pode ter sido de outra maneira, já que não existe nenhum estudo minimamente sério, ou sequer uma experiência prática, que prove que, matando o paciente, ele seja curado, como prega a tal reforma.

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