//AMBIENTE// Sinal amarelo para a nossa água

Parque Represa Dr. Jovino Silveira, cuja água abastece parte da cidade

Salete Silva

Um alarme soou entre a população serrana em meados de abril quando a Estância Hidromineral de Serra Negra apareceu numa lista de 1 entre 4 municípios brasileiros cuja água apresentou contaminação por um coquetel de agrotóxicos que, segundo especialistas, pode trazer riscos à saúde dos brasileiros.

Os dados do Ministério da Saúde foram obtidos e se tornaram alvo de investigação e reportagem publicada em conjunto pela Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye.  

As informações vêm à tona bem no momento em que a liberalização desenfreada de agrotóxicos e a flexibilização das leis ambientais em benefício do agronegócio pelo governo federal se tornaram uma das principais críticas de ambientalistas, organizações ambientais e da sociedade brasileira de forma geral ao titular do Ministério Meio Ambiente, Ricardo Salles, e à ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM).

Desde que Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a presidência da República, 152 novos agrotóxicos já foram aprovados. É o ritmo mais intenso de aprovação desses produtos nos 100 primeiros dias do ano desde 2010, segundo o Greenpeace.

Dos novos produtos que foram liberados, 28% deles já foram banidos ou não são permitidos na União Europeia, cuja legislação é mais rígida em relação aos defensivos agrícolas.


Entre os agrotóxicos encontrados nas águas dos municípios citados pelo relatório, há cinco classificados como “prováveis cancerígenos” pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e seis considerados pela União Europeia como causadores de disfunções endócrinas, o que pode gerar diversos problemas de saúde, como a puberdade precoce.

A Divisão de Vigilância Epidemiológica de Serra Negra argumenta que "o problema está no limite nos padrões de presença de agrotóxicos do Brasil, comparado com o da União Européia”. O abastecimento de água, informa o Departamento, vem da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e de acordo com as informações alimentadas no sistema (Sisagua), está abaixo dos limites dos padrões brasileiros.

A nota emitida pela assessoria de imprensa da prefeitura de Serra Negra informa que a administração municipal não conta com técnico especialista em qualidade da água, que a água é fornecida pela Sabesp e cabe à prefeitura apenas o monitoramento. Conclui: “Em nosso entendimento, a reportagem foi realizada baseada em comparações com a União Europeia, mas seguimos e monitoramos as análises das águas baseados em Portaria Brasileira, a qual está vigente."

A bióloga Rosely Sanches, moradora de Serra Negra, professora de economia e desenvolvimento sustentável na Fatec de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, chama a atenção para a necessidade de se aprofundar na investigação para não causar alarme na população, mas também tomar as medidas necessárias para combater e em especial prevenir as contaminações e brecar a tendência de liberalização e uso excessivo de agrotóxico.

“A Prefeitura pode até alegar que não tem técnico especialista e eles têm razão, porque quem controla a qualidade da água é a Sabesp, mas é preciso questionar a Sabesp”, afirma. A Sabesp na ocasião respondeu com informações técnicas sobre o monitoramento da água no Estado de São Paulo. Não esclareceu, no entanto, o que está sendo feito para controlar ou prevenir o problema.

O Viva! Serra Negra aguarda da assessoria de imprensa da empresa um contato com um técnico da região para falar sobre o assunto. Segundo Rosely, no entanto, os limites de tolerância no Brasil são muito maiores do que os da União Europeia, no que diz respeito à qualidade do ar e isso deve ocorrer também em relação à água.

Quanto aos achados na água, a bióloga diz não ter se surpreendido. Isso é consequência das pulverizações aéreas e do tipo de agrotóxico utilizado. “Vi que pela lista existem produtos daqueles que são mais difíceis de degradação, que são da família dos organoclorados”, afirma. Um deles, o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano, um dos mais conhecidos inseticidas de baixo custo), foi citado nos relatórios sobre a água, não em virtude da concentração acima do valor, mas por ser do tipo persistente e bioacumulativo, como outros.

Rosely lembra ainda que foram encontrados outros tipos que já foram banidos na Europa e nos Estados Unidos. “Não surpreende serem encontrados, porque são utilizados amplamente no Brasil e alguns ainda estão em processo de proibição”, informa. Os limites de tolerância acabam aceitando mais concentrações.

A bióloga destaca ainda a relação entre alguns produtos e a saúde. Segundo ela, existem muitas pesquisas em andamento e divulgadas que mostram relações de alguns tipos de agrotóxicos com a evolução e surgimento de certas doenças. Mas ela ressalva: “É um assunto extremamente complexo, que tem de ser aprofundado para que sejam levantadas mais informações, incluindo sobre como foram feitas as análises para não gerar um alarmismo e os moradores acharem que as fontes estão contaminadas.”

Comentários

  1. Além das fontes estarem morrendo de sede,mais essa: chegaremos a um creme -de- não -água.

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