//AGRICULTURA// Café serrano busca excelência

Silvia Fontes e Francisco Polidoro: menos herbicida, mais qualidade


Salete Silva

Cultivados a uma altitude de 1.000 metros acima do nível do mar, os cafés de Serra Negra já nascem especiais. Mas podem agregar valor dependendo das técnicas de manejo usadas antes, durante e depois da colheita.

Quanto mais naturais as técnicas empregadas, melhor aos olhos do mundo, que caminha cada vez mais para uma agricultura sustentável.

Recentemente, mais de 600 cientistas europeus assinaram um manifesto solicitando que as negociações comerciais com o Brasil sejam condicionadas à sustentabilidade dos seus produtos agrícolas. O grupo que assina o texto tem representantes de todos os 28 países-membros da União Europeia.

Serra Negra, sede da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista (Acecap), já trabalha na indicação geográfica da região com o objetivo de conquistar um selo de qualidade, que vai diferenciar seu produto no mercado interno e externo.

Outro mecanismo de identificação cada vez mais utilizado para saber como os alimentos são produzidos é a sua rastreabilidade por meio do QR Code. Os produtores brasileiros, avalia o cafeicultor Antônio Francisco Polidoro, sócio-diretor do Café da Montanha, de Serra Negra, podem utilizar essas ferramentas como marketing de seus produtos.

O clima favorável à cafeicultura, ele lembra, dispensa o uso excessivo de herbicidas tanto no combate à broca, besouro que destrói as sementes, quanto na manutenção dos cafezais. Além de sustentáveis, essas técnicas são rentáveis: “Se divulgarmos que a região usa tecnologias naturais seria muito bom para a imagem da cafeicultura”, diz Polidoro.

Ele lembra que no ano passado, num experimento em sua propriedade, nas áreas em que foram cortados cafés, plantou feijão numa parte e milho na outra. Usou menos herbicida e aplicou um produto só para segurar o sementeiro do feijão. Foram colhidos 200 sacos de milho e 50 sacos de feijão.

Os 200 sacos de milho serviram para negociar uma dívida e os de feijão, vendidos a R$ 180 cada, entraram para o faturamento da propriedade. “Notamos que houve uma queda no uso do herbicida e do outro produto depois, porque eliminou naturalmente o mato, além de fixar o nitrogênio na terra” relata o cafeicultor.

Essa técnica é similar ao adubo verde utilizado na propriedade da cafeicultora Silvia Fontes, que produz café orgânico especial. “Polidoro usou o que chamamos de adubo verde”, diz Silvia. Em sua propriedade, ela planta legumes entre as ruas dos cafezais para trazer mais nitrogênio e massa orgânica maior.

Dessa forma, substitui completamente o herbicida à base de glifosato para acabar com o mato. “O herbicida deixa o chão pobre, duro, sem massa orgânica e no qual cada vez mais se tem de colocar adubo químico”, afirma. Ela diz que o custo de produção pode ser maior para o produtor orgânico, mas na sua avaliação, não é muito maior do que se gasta nos cafezais convencionais.

“O custo do adubo subiu muito, não mais do que subiram os gastos com a adubação orgânica, mas eu consigo diluir meus custos porque faço uma adubação preventiva, adubando várias vezes no ano, ao contrário da adubação convencional”, compara Silvia.

Além disso, a tendência segundo ela, é gastar cada vez menos com adubação, uma vez que ela aplica massa orgânica, que mantém o solo mais úmido, mais protegido e que vai se decompor trazendo mais benefícios para a terra.

Para Silvia, que tem 16 mil pés de cafés, a experiência de Polidoro, que tem 100 mil pés de cafés, é um indicativo de que é possível manter uma cultura mais saudável e sustentável mesmo nas propriedades maiores. “Esse é o caminho e em épocas de crise temos de ser criativos”, conclui.


Os dois cafeicultores concordam: tecnologias naturais fazem bem



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