//NOTAS SERRANAS // O que você precisa saber sobre a inauguração da cópia da Fontana di Trevi


Ato político

A inauguração da cópia serrana da Fontana di Trevi, obra que custou R$ 1,6 milhão aos cofres públicos, foi uma festa política. O governador Tarcísio de Freitas, esperado até o último momento, não compareceu. O prefeito Elmir Chedid aproveitou os holofotes para discursar por mais de 20 minutos. Diante de uma plateia ansiosa pelo acender das luzes inaugurais e dos shows musicais, Chedid interrompeu várias vezes seu discurso para dizer que já estava quase terminando. 

Panos quentes

O prefeito saudou o governador à distância com um abraço e não economizou nos elogios, lembrando a experiência de Tarcísio como ex-ministro da Infraestrutura. Embora tenha manifestado apoio público à reeleição de Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2022, o prefeito colocou panos quentes na disputa política. A prefeitura é muito dependente dos repasses de recursos do governos estadual e federal. "A briga é muito ruim para nós brasileiros. Temos aqui em São Paulo um governador apoiado pelo ex-presidente e temos o presidente que ganhou  as eleições. Vamos respeitá-los, vamos orar para que eles trabalhem e nos ajudem", pediu.

Lua de mel

Chedid incluiu no discurso uma história pessoal romantizada sobre como teria decidido construir a cópia da Fontana di Trevi em Serra Negra. Disse que conheceu a fonte italiana em 2009, quando viajou a Roma em lua de mel. "Pensei, pensei ao lado da minha esposa Deborah na lua de mel em 2009, visitando Roma, conhecemos a bela Fontana di Trevi, olhei aquilo, que coisa mais linda, que maravilha", afirmou. Chedid teria ficado tão encantado que jogou a moedinha, como manda a tradição, e fez a promessa de construir uma réplica em Serra Negra se voltasse a administrar a cidade, embora a candidatura, segundo ele, não estivesse mais em seus planos.

Prospecção de mercado

A história do prefeito sobre a concepção da réplica da Fontana di Trevi diverge das informações que circularam em 2020, na gestão anterior de Sidney Ferraresso, quando empresários do Rio Grande do Sul visitaram municípios do Circuito das Águas Paulista para conhecer o potencial turístico da região. Na ocasião, um dos empresários manifestou interesse em construir um mirante de vidro no Alto da Serra. A construção da réplica de uma fonte italiana também teria sido uma sugestão apresentada por investidores que conheciam até empresas especializadas em produção de cenários.

Educação no trânsito

O secretário Extraordinário de Projetos Estratégicos do Estado de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, disse que participou da inauguração da cópia não como secretário de Estado, mas como morador de uma cidade da qual gosta muito. Afif elogiou a educação dos moradores no trânsito. "É uma cidade que não tem sinaleiro de trânsito porque há respeito pelo pedestre, há respeito pela faixa de segurança, não precisa impor regras. É um povo excepcionalmente bem educado", afirmou.

Deputado ausente

O prefeito Elmir Chedid informou durante a inauguração da fonte que seu irmão, o deputado estadual Edmir Chedid, havia sofrido um acidente vascular cerebral e se encontrava internado em um hospital em São Paulo. Chedid não deu detalhes do estado de saúde do irmão. Ele disse que Edmir pediu para que a inauguração ocorresse mesmo sem sua presença. O deputado foi representado pela sua mãe,  Marilis Reginato Abi Chedid. O chefe de Gabinete, Rodrigo Demattê Angeli, foi quem falou em nome do deputado. Demattê justificou a ausência de Edmir por recomendação médica. A principal mensagem do deputado transmitida pelo chefe de Gabinete foi a de que Edmir está à disposição do governador para trabalhar pelo Estado e pelo município.

Deus, Deus, Deus

O pastor Roberto de Lucena, secretário estadual de Turismo e Viagens, invocou o nome de Deus várias vezes em seu discurso. "Que Deus abençoe a todos. Que Deus abençoe a cada família aqui representada. Que Deus abençoe esta maravilhosa cidade de Serra Negra", afirmou. "Estamos aplaudindo essa iniciativa certamente inspirada por Deus de trazer para Serra Negra essa réplica", acrescentou. O secretário disse ainda que a cópia da fonte italiana é um presente para o Estado de São Paulo. Único deputado federal presente, o bolsonarista Carlos Sampaio falou rapidamente para lembrar, entre outras coisas, que os votos dos eleitores de Serra Negra o ajudaram a se reeleger. 

Poucas palavras

O presidente da Câmara Municipal, Wagner de Buono, o Waguinho do Hospital, fez um discurso de cerca de 2 minutos na festa. Gastou 1 minuto e 17 segundos saudando autoridades presentes. Depois, elogiou o prefeito pela obra e disse que os vereadores, situação e oposição, dão a ele "total apoio", e por pensarem em que é melhor para a cidade, estão votando - na verdade, aprovando - por unanimidade, projetos de lei do Executivo enviados a eles.

Nome errado

Ao listar os nomes das autoridades presentes, o prefeito Elmir Chedid errou o nome do presidente da Câmara Municipal: chamou-o de Wagner da Silva Bueno. Waguinho, como é conhecido, está em campanha para ser indicado candidato situacionista à sucessão de Elmir. Funcionários públicos, porém, dizem abertamente que o posto será ocupado pela primeira-dama, Deborah Chedid.

Itália de fora

Além da ausência do governador do Estado, Tarcísio de Freitas, nenhum representante do governo italiano compareceu à solenidade de inauguração da cópia da Fontana di Trevi.

Sem trabalhador

Os trabalhadores da empresa que construiu a cópia da fonte romana foram lembrados em discursos. O secretário estadual de Turismo e Viagens, Roberto de Lucena, agradeceu o esforço deles para a construção do monumento. Mas não havia nenhum trabalhador entre os convidados para a festa. Apenas o dono da construtora foi citado entre os presentes.

Silêncio barulhento

Terminados os discursos e o descerramento das placas, o locutor da solenidade, Tárcio Cacossi, anunciou a queima de fogos de artifício "silenciosa", patrocinada pelo prefeito e seu irmão deputado, "sem qualquer dinheiro público envolvido", como salientou. Os estampidos, porém, foram ouvidos bem alto em vários pontos da cidade e muitos serranos se queixaram, nas redes sociais, do barulho, que incomodou cães e gatos. 

Funicular quebrado

A música escolhida para a Banda Lira abrir a solenidade de inauguração da cópia da Fontana di Trevi, "Funiculi Funiculà", foi escrita pelo jornalista, poeta e cantor italiano Giuseppe "Peppino" Turco e musicada por Luigi Denza em 1880. Foi composta para celebrar a abertura do primeiro funicular (funicolare) do Monte Vesúvio, em 1879. Em Serra Negra, o funicular que leva à estátua do Cristo Redentor vive quebrado.

Show de reais

A apresentação da "Bela e os Tenores" na festa inaugural da cópia da fonte romana custou R$ 29.800 aos cofres públicos, segundo dados do Portal da Transparência, que omite o cachê do cantor Tony Angeli, também contratado. Em anos anteriores, seu cachê foi de cerca de R$ 7 mil para se apresentar em eventos oficiais de Serra Negra. 

Milhões gratuitos

Segundo Pedro Giovani, apresentador oficial de eventos da prefeitura, "só a divulgação nas mídias, jornais, televisão", se ela fosse paga, custaria R$ 20 milhões aos cofres públicos. Giovani, que apresentou o show musical que se seguiu à queima de fogos de artifício, deu parabéns ao prefeito Elmir Chedid pela "coragem" de fazer a obra. 

Moedas solidárias

A Câmara Municipal vai votar nesta segunda-feira, 15 de maio, projeto de lei do Executivo que autoriza o poder público a destinar as moedas recolhidas em fontes e espelhos d'água do município ao Fundo Social de Solidariedade. A Guarda Civil Municipal, em vista disso, deveria redobrar a vigilância nesses locais.


Torre Eiffel brasileira

Copiar um monumento mundialmente famoso não é novidade no Brasil. Em Umuarama no Paraná, desde 2008 uma Torre Eiffel anã pode ser vista - e visitada. De início, atraiu muita gente. Hoje, é apenas uma peça curiosa que, pelo menos, não consumiu dinheiro público para ser erguida - quem bancou a construção foi um empresário local.



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