//SALETE SILVA// Comandante da GCM é contra polícia dentro das escolas

Marcelo Boccato: polícia dentro da escola às vezes causa medo nas crianças


Os autores de fake news e pessoas que espalharem notícias falsas nas redes sociais da cidade sobre ataques às escolas podem ser denunciados na Delegacia de Polícia ou nos telefones de emergência da Guarda Civil Municipal de Serra Negra. A informação é do chefe da CGM, Marcelo Boccato, em reunião com pais de uma escola da cidade, realizada na sexta-feira, 14 de abril.

Boccato informou que a pessoa que teria espalhado boatos acerca de uma invasão falsa, na quinta-feira, 13 de abril, de uma escola particular, já está sendo investigada e as providências estão sendo tomadas. A disseminação de fake news, além de espalhar pânico entre pais, alunos e professores, pode prejudicar cidadãos entre os quais os próprios colaboradores das escolas, que sofrem abordagens ostensiva das polícias por serem confundidos com invasores.

Em entrevista ao site Congresso em Foco, o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, disse que há um fenômeno considerado por ele “novo e inaceitável”, que é a vingança contra as escolas e a sociedade por meio dos ataques. “O extremismo de direita, neonazista e fascista, oferece uma cultura que tenta justificar e propagar a violência. Quase todos os promotores de ataques circulavam em comunidades de ódio organizadas sob a cultura neonazista e fascista”, disse.

Comunidades online exaltaram os autores de massacres em escolas. A maioria delas está ligada à extrema-direita e ostenta símbolos do nazismo e do fascismo. O historiador Daniel Pradera avalia que o aumento dos casos de ataques a escolas nos últimos quatro anos é consequência do avanço desses movimentos de extrema-direita.

Mapeamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela que desde o primeiro episódio, em 2002, outros 17 foram registrados, 13 deles só nos últimos dois anos. Analistas avaliam que a contenção desses ataques e das ameaças é eficiente por meio da prevenção dos conteúdos veiculados e do combate à cultura da violência. 

Pesquisa publicada em 2019 na revista científica Journal of Adolescent Health, revisou 179 episódios de tiroteios em escolas norte-americanas entre 1999 e 2018. A conclusão é que manter guardas armados na escola não reduziu o número de vítimas em massacres. 

Para a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Débora Messenberg, a questão é mais sobre prevenção, controle de conteúdos e de não estímulo à cultura da violência.

Débora destacou que o país passa por um momento difícil, em que se tenta a regulamentação das redes sociais, onde tudo é permitido, e da liberação de um discurso de cunho fascista que alimenta o ambiente de ódio.

O sociólogo Marco Rolim, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, também alerta para o monitoramento dos conteúdos na internet. O desafio da prevenção envolve recursos de inteligência policial e colaboração das ‘big techs’ no monitoramento de grupos potencialmente violentos que se organizam na internet, para detecção de planos de ataque. 

Sabe-se que há um perfil de perpetradores que são quase sempre jovens do sexo masculino, marginalizados socialmente, misóginos, que glorificam armas e violência e se vinculam a grupos de extrema-direita de perfil nazifascista, afirmou o sociólogo ao Congresso em Foco.

Nos últimos dias uma avalanche de projetos de lei de deputados e indicações de vereadores, como em Serra Negra, inundaram o Legislativo de todo o país. A maioria deles propõe a instalação de portas giratórias, detectores de metais, portarias exclusivas, construção de muros altos e revisão de mochilas.

Escola não é para polícia

Boccato descartou a possibilidade de colocar seguranças dentro das escolas, muito menos armados. O chefe da CGM considera que essa iniciativa só aumentaria o pânico e não garantiria 100% da segurança. Para ele, a escola é um ambiente de aprendizado e não de polícia e o corpo policial nunca poderá garantir 100% de segurança.

O chefe da CGM destacou ainda que até a presença da polícia dentro da escola às vezes causa medo nas crianças. Boccato mesmo relatou ter vivenciado essa situação com uma criança que ficou paralisada diante de sua presença na escola.  

O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou a publicação de uma portaria com medidas para punir redes sociais que não adotarem ações para coibir conteúdo ilícito, com ameaças. A multa pode chegar a R$ 12 milhões. O Twitter se recusou a remover conteúdos de apologia a ataques a instituições de ensino. O Ministério Público Federal, na quarta-feira, 12 de abril, deu prazo de dez dias para a plataforma remover as publicações. 

Escolas particulares em Serra Negra contrataram seguranças. A prefeitura informou que já aumentou a frequência das rondas escolares e que, dessa forma, agentes de segurança pública estão passando, em viaturas, mais vezes ao dia nas escolas.  

Uma linha direta, por WhatsApp, foi disponibilizada para que os diretores e diretoras de escolas possam fazer contato rapidamente com a Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Civil Municipal. O prefeito Elmir Chedid anunciou que contratou a empresa Arcanjos Segurança para instalar botões de pânico nas 17 unidades de educação sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação. O dispositivo, ao ser acionado, envia um aviso de ajuda às forças policiais. A prefeitura pretende levar o sistema às escolas estaduais.

Na terça-feira, às 18h30, na página do Facebook do Jornal Digital Regional, o programa Fala Serra Negra vai realizar uma entrevista com o juiz de Direito de Serra Negra, Carlos Eduardo Silos de Araújo, que dedica parte de seu tempo à palestras nas escolas para conversar sobre prevenção à violência com adolescentes e crianças.

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra


  

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