//CIDADE// Escola investe em atividades extraclasse para superar impacto da crise na educação

Alunos da EE Professora Amélia Massaro simularam julgamento de caso de feminicídio 


A Escola Estadual Professora Amélia Massaro tem investido em atividades extracurriculares com temas socioeconômicos e psicossociais para amenizar o impacto da pandemia, da crise econômica e da falta de investimentos em educação nos últimos anos na vida e no comportamento dos adolescentes e jovens.

Na semana passada, os alunos do 9º ano foram até o Fórum de Serra Negra, a convite do juiz Carlos Eduardo Silos de Araújo, para conhecer a sala do júri e apresentar uma simulação de julgamento de um caso de feminicídio. 

Nesta quinta-feira, 15 de setembro, às 8 horas, os alunos do ensino fundamental II participarão de uma palestra sobre saúde mental realizada em parceria com o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), dentro da programação da campanha Setembro Amarelo de prevenção ao suicídio.

A pandemia provocou uma ruptura nas famílias, avalia o diretor da escola, Olavo Celso Kahn Silveira. “A desestrutura familiar é o principal problema, muitos não têm o que comer. A realidade é essa”, salientou. Pais e mães perderam o emprego com a crise econômica. O Auxílio Brasil tem sido  insuficiente para cobrir as despesas básicas das famílias. Além disso, o diretor analisa que apenas a ajuda financeira não atende aos anseios dos cidadãos.

“Não é apenas isso que desejam. Eles querem ter condições de trabalhar, querem ter condições de ter seu emprego, sustentar sua família e ter dignidade”, salientou o diretor. A pandemia afastou as crianças um ano e meio da escola. As defasagens de aprendizagem já instaladas anteriormente à pandemia vinham sendo superadas pela escola, mas a mudança para o aprendizado remoto provocou um retrocesso no trabalho que vinha sendo realizado.

Além de lidar com o impacto emocional e financeiro no comportamento das crianças e adolescentes, as instituições de ensino público estão tentando compensar com estratégias pedagógicas a falta de investimentos em educação nos últimos anos. A estimativa é que o governo de Jair Bolsonaro investiu este ano em educação R$ 18 bilhões menos do que em 2019, segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

A violência e os atritos entre os alunos aumentaram na retomada das aulas. Os casos de agressões não ocorrem nas dependências da instituição, o diretor explica, mas acabam se refletindo dentro dela. “Acontece fora da escola, mas chega aqui para a gente resolver”, afirmou.

As novas gerações sofrem também com um desinteresse pelos estudos, na avaliação do diretor, provocado pelas redes sociais e no Brasil também pelas sucessivas crises política e econômica dos últimos anos. ”Quando éramos crianças, tínhamos um objetivo. O estudo para nós era um objetivo para melhorar de vida e ajudar a família”, salientou.

Apesar da evolução tecnológica, os alunos carecem de maior socialização. “Não tínhamos os livros de hoje nem os recursos tecnológicos. Mas tínhamos mais coleguismo, amigos no entorno, as famílias se conheciam e as crianças frequentavam uma a casa da outra”, recorda. As crianças e as famílias, o diretor analisa, estão hoje mais isoladas.

Silveira atribui o desinteresse pelos estudos também à divulgação nas redes sociais de celebridades, como as do futebol e dos "influencers". “Eles querem se inspirar nas histórias de personalidades que com uma aparição num programa passam a ganhar milhões”, afirmou.

O diretor lamentou também o fato de a sociedade atribuir às escolas a responsabilidade pelos problemas psicossociais das famílias e dos alunos. “A escola não pode ser culpada de tudo. Mas pela mídia somos sempre os culpados. Quem está conosco sabe que não é bem assim. Se acontece algo com um aluno, a primeira a ser acusada é a escola.”

Serviços essenciais

Silveira lembrou que as famílias dos alunos das áreas mais distantes do centro da cidade ainda sofrem com a falta de serviços essenciais. Ele citou o desabastecimento de água, que leva muitos bairros ainda a ficar dias sem água e que ainda estão sem tratamento de esgoto. “A Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] prometeu 100% de esgoto no município, mas cumpriu?”, perguntou.

O diretor avalia que a administração municipal tem feito seu papel, em especial no que se refere à merenda escolar. “Tem muita variedade de alimentos, hoje tivemos até melão”, informou. Mas reconheceu que esses jovens carecem de áreas de lazer. Os bairros distantes, ele sugere, deveriam contar com ginásios equipados para jogos e atividades esportivas variadas.

Essas áreas sofrem também com a falta de transporte público, o que dificulta a locomoção dos adolescentes para a região central e para os locais de lazer da cidade, como os pontos turísticos. A responsabilidade desses investimentos, assim como na educação, ele avalia, são dos governos federal e estadual. “A iniciativa privada hoje não tem nem para se manter”, salientou. O serviço de internet, por exemplo, o diretor cita, é precário e nem sempre funciona.

A maioria dos pais de alunos é de empregados do comércio e supermercados, ou trabalha como pedreiros e agricultores. Há crianças que frequentam a escola de acordo com a safra agrícola. “Os pais mudam de lugar de acordo com a colheita. Esses alunos permanecem três meses e depois vão para Minas Gerais ou outros Estados onde os pais podem trabalhar na colheita e depois até retornam”, relata.

APAE

Os alunos especiais também carecem de uma atenção especial. A escola atende dois adolescentes autistas que recebem apoio do Centro Educacional e Social Professora Olga de Souza Vichi, onde recebem estimulação cognitiva, mas os alunos maiores carecem de tratamentos especializados.

Os convênios municipais, o diretor explica, só atendem as crianças até o ensino fundamental I. As crianças do ensino fundamental II necessitam dos serviços oferecidos pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que não tem uma unidade na cidade.


 

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