//SERRA NEGRA NA RODA// Haddad: "Turista precisa ter dinheiro para poder gastar em Serra Negra"

 

Fernando Haddad: "O que o Doria fez não tem paralelo
 na história do funcionalismo de São Paulo, nunca vi nada tão violento"

O ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, pré-candidato do PT ao governo do Estado, fez duras criticas à política econômica do governo Bolsonaro, sob a responsabilidade do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, em sua participação no programa Serra Negra na Roda, produzido pela Casa da Cultura e Cidadania Dalmo Dallari e transmitido na terça-feira, dia 3.

"O projeto econômico do Guedes é um desastre, impôs um sofrimento exorbitante à população, o preço das coisas está pela hora da morte, está um horror, o trabalhador perdeu muita renda ou perdeu o emprego - ou seja, toda a renda", disse.

Além disso, acrescentou, a situação no Estado de São Paulo se agravou porque, afirmou, "durante a pandemia o Doria [João, ex-governador paulista] aumentou os impostos". Segundo Haddad, essa medida foi "absurda": "Ele não tem a menor ideia do que é manter uma porta aberta durante uma crise sanitária do tamanho da covid-19. E ele foi lá e aumentou os impostos. E do quê, do rico? Não, aumentou o de material de construção, de alimentos, de remédios. Ele teve essa insensatez de fazer isso, prejudicando milhares de pequenos e microempresários de São Paulo." 

Além disso, de acordo com o pré-candidato petista, Doria "afugentou indústrias, que estão procurando outros Estados, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, Paraná, em busca de melhores condições de produção". 

Haddad também criticou na entrevista a renovação dos contratos das concessionárias das rodovias estaduais: "E há também os pedágios. O Doria renovou os contratos sem conseguir nenhum desconto nos pedágios. Para que renovar, se não for para ter um desconto? Deveria ou relicitar ou prorrogar o contrato com desconto", disse.

Segundo Haddad, o preço dos pedágios e da gasolina afetam diretamente Serra Negra. "Eu preciso chegar em Serra Negra, mas para me hospedar num hotel, eu preciso chegar com algum dinheiro no bolso, se eu chego de bolso vazio, porque deixei o dinheiro na estrada, eu não vou ter dinheiro para me hospedar nem para gastar nos restaurantes de Serra Negra", explicou.

Haddad lembrou que ia muito para Amparo com a sua esposa, pois que seu sogro tinha uma casa lá. "Passávamos as férias em Amparo... Come-se bem, gente boa, gente educada, gente preparada para receber o turista, só que o turista está sem dinheiro", afirmou, para em seguida voltar a criticar o ex-governador João Doria: "Você não tem o dinheiro que o Doria está imaginando. Como ele só anda de helicóptero e avião, ele não paga pedágio. Esse é o problema do Doria, ele não conhece a realidade do Estado. Ele não sabe se as estradas vicinais estão asfaltadas, ele não sabe se as pessoas têm dinheiro para pagar o pedágio..."

A seguir, alguns trechos da entrevista de Fernando Haddad ao Serra Negra na Roda:

Ensino superior público na região

O Instituto Federal, que nós criamos, não é só o melhor ensino médio do Brasil, ele dá acesso ao ensino superior, na área de tecnologia. Temos hoje 37 unidades do Instituto Federal em São Paulo e nós poderemos ter mais unidades federais ou então expandir as Fatecs, que também é outra alternativa para aumentar as vagas para o ensino superior no Estado.

Reajuste dos professores 

Eu preciso ser muito honesto com os professores porque eu sou professor. O piso nacional foi criado no governo Lula e tinha uma cláusula de reajuste na lei. Ou seja, ninguém inventou nada, é a mesma lei aprovada em 2008. Mas veja bem, o Bolsonaro não foi correto com os prefeitos e os governadores, porque ele não deu o reajuste do piso nos primeiros anos de governo e sem prévio aviso deu uma cacetada de 30%. Se ele tivesse feito conforme o programado, a situação não estaria do jeito que está. Veja bem, você é prefeito e recebe uma notícia de Brasília - eu não estou defendendo o prefeito, porque ele tem de pagar o piso - de que, segundo o Bolsonaro, você tem de pagar, do dia para a noite, 30% a mais da sua folha de salário dos professores, porque ele não deu reajuste durante dois anos e resolveu dar num ano eleitoral para fazer politicagem. O que estou querendo dizer é que a lei do piso é uma enorme conquista dos professores - eu tenho a honra de ter assinado essa lei -, portanto não serei eu quem vai descumprir uma lei que eu próprio assinei quando ministro, mas o problema é que a gestão do Bolsonaro foi péssima, ele errou com os prefeitos e os governadores. O Estado de São Paulo tem condição de honrar o piso? Tem condição, mesmo que tenha de fazer um acordo para ajustar isso com a receita do município, é possível rapidamente atender a lei. Mas não podia ter feito como o Bolsonaro fez. Eu nunca fiz isso, passei sete anos no Ministério da Educação e nunca fiz isso, sempre fiz de comum acordo com prefeitos e governadores, e o salário dos professores foi evoluindo, para chegar a patamares mais adequados para que a carreira de professor seja atrativa, não seja uma carreira de segunda categoria. Nós precisamos de professores valorizados e muito orgulhosos de sua missão, que é a mais importante para o desenvolvimento de um país.

Funcionalismo público

Nem como ministro, nem como prefeito de São Paulo eu encaminhei um projeto de lei para o Congresso Nacional ou para a Câmara Municipal sem um acordo prévio com a categoria. Às vezes você não tem condições de atender o que a categoria pede, o que é normal, mas você abre uma negociação, e você só encaminha para votação aquilo que for bom para os dois lados. Você não encaminha para ser aprovada uma lei contra o professor, contra o serviço público. Você constrói uma carreira junto do serviço público. O que o Doria fez não tem paralelo na história do funcionalismo de São Paulo. Nunca vi nada tão violento quanto o método do Doria em relação ao funcionalismo público. Posso assegurar que vou agir como sempre agi. Você não vai achar um sindicato que tenha negociado com o MEC ou com a prefeitura de São Paulo que nos acuse de autoritarismo, de não negociar, de não construir coletivamente e não aprovar com o apoio da população os projetos de lei que visam a reestruturação de carreiras. O Doria não respeitou nenhum protocolo, nenhuma liturgia de tratamento de colaboradores do Estado brasileiro. 

Santas Casas e saúde pública

Faltam verbas para todas as Santas Casas do Estado de São Paulo. Elas estão em situação de miséria, algumas ameaçam fechar por falta de apoio do governo estadual e do governo federal. Então, não vai ser uma Santa Casa que vai ser atendida pelo nosso governo, nós vamos ter de fazer um plano de recuperação das Santas Casas e vamos ter de contar com o governo federal também. Eu espero que o próximo presidente da República seja alguém decente, alguém que não deixe faltar dinheiro para a saúde. O Bolsonaro deixa faltar dinheiro para tudo. Só tem dinheiro para o Centrão. Não tem dinheiro para saúde e educação. Veja o que está acontecendo no MEC, desviando dinheiro para barras de ouro, kits de robótica superfaturados, para ônibus superfaturado... um escândalo. Mas se Deus quiser nós vamos ter um presidente que vai saber fazer parcerias com o governo do Estado para apoiar as Santas cCsas, que no Estado de São Paulo têm um papel imprescindível, como nós sabemos.

Hospitais dia 

Temos uma proposta que é para desonerar um pouco os hospitais gerais, que é levar para o Interior os hospitais dia para diminuir a fila de cirurgias, de exames e de consultas, sem a necessidade de ir para o hospital geral. Você faz um atendimento mais rápido no hospital dia e inclusive os hospitais dia têm centro cirúrgico para cirurgia cuja recuperação pode ser feita em casa. Isso hoje é comum no mundo inteiro, no mundo desenvolvido, justamente para você não ter de internar a pessoa e baixar os custos relativos à hospitalização, que são muito altos. O hospital dia tem a grande vantagem de ser uma unidade que faz consulta de especialidade, exame de imagem, cirurgia ambulatorial num mesmo lugar, que é um lugar menor, que pode ser pulverizado pelo Estado. Inclusive, em alguns bairros de São Paulo eu fiz unidades móveis, para regiões que não tinham grande demanda. Essas unidades ficavam alguns dias, uma semana, diminuindo a fila. Para regiões onde a demanda é maior, você instala o hospital fixo. Na cidade de São Paulo eu construí 21 hospitais dia da rede Hora Certa e 11 unidades móveis e assim conseguimos diminuir a fila de espera muito rapidamente.

Assista a seguir à íntegra do programa:




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