//CIDADE// Poder público tem de discutir problemas de meio ambiente com a sociedade

 


O desenvolvimento econômico em Serra Negra só será sustentável se os problemas ambientais do município forem discutidos amplamente pelo poder público com a sociedade serrana para que os cidadãos manifestem sua opinião e os profissionais especializados no assunto sejam consultados e as melhores soluções técnicas sejam aplicadas.

Essa é a opinião dos participantes do programa Serra Negra na Roda desta quinta-feira, 7 de outubro, transmitido pela página do Facebook da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari.

Participaram do debate o engenheiro civil Marcelo de Souza, o ativista ambiental e cultural Marcos Mielle, o Prancha, o comerciante Hernandes Medinilha, e a professora Adriana De Biasi Dorigatti, os dois últimos integrantes do grupo que está tentando reativar o Conselho Municipal de Meio Ambiente.

O tema do programa foi o meio ambiente e as políticas públicas adotadas na cidade na área ambiental. Um dos principais assuntos foi a reativação do Conselho Municipal de Meio Ambiente, inativo desde 2009.

Adriana lembrou que as decisões ambientais vêm sendo tomadas de forma muito rápida e sem critérios científicos pelo poder público. “É por isso que temos urgência na formação desse conselho. Essas questões são decididas muito rapidamente, sem estudos, sem parâmetros, sem tecnicidade, e isso está acabando com as raízes de Serra Negra”, afirmou a professora.

Ela avalia que o conselho, como já foi solicitado à Secretaria de Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, tem de ter caráter deliberativo e ser integrado por pessoas técnicas da sociedade civil. “O meio ambiente não é a florzinha, a plantinha, é muito mais do que isso. É a casa onde moramos, a cidade onde convivemos, é a planta, o animal”, afirmou Adriana.

Há mais de 40 anos apontando problemas e tentando buscar soluções junto ao poder público para as questões ambientais do município, Prancha disse que espera que o Conselho Municipal de Meio Ambiente traga um pouco de otimismo para ele, que avalia com pessimismo a situação ambiental de Serra Negra.

“Estou torcendo para que esse grupo se fortaleça. Sou meio incrédulo com essa questão, porque já decidiram que Serra Negra é uma cidade de negócios e o que interessa é criar loteamentos, espaços onde a natureza e a riqueza principal, que é a água e o meio ambiente, não interessam para eles, que consideram os impostos e o IPTU mais interessantes para a arrecadação”, afirmou Prancha.

O ativista ambiental lembrou que divulgou nas redes sociais do município um vídeo mostrando a situação dramática em que se encontra o Parque Fonte São Luiz, que passou recentemente por uma reforma, sem investimentos para recuperar as nascentes ali localizadas, com obras apenas na área de convívio social, mas que já estão deterioradas.

“Não sei o que fizeram com o dinheiro que veio do governo do Estado, porque ali não foi feito nada, o dinheiro que veio não foi gasto e, se foi gasto, foi mal gasto”, afirmou Prancha. 

Integrante do grupo que tenta reativar o Conselho Municipal, Medinilha informou que há mais de um mês aguarda o retorno da Secretaria do Meio Ambiente sobre as propostas de mudanças na minuta que está sendo elaborada pela prefeitura para a reativação do órgão.

Ele destacou que a intenção do grupo não é emperrar o desenvolvimento econômico do município. “O conselho não vem barrar o desenvolvimento de Serra Negra, mas alavancar o desenvolvimento sustentável da cidade. Existem legislações, incentivos, que o conselho pode levantar e trazer a sustentabilidade da cidade”, salientou.

O engenheiro Marcelo de Souza reforçou a observação feita pelos internautas participantes do programa de que a prefeitura não discute amplamente as questões com os munícipes nem com técnicos do município que detém conhecimento do assunto.

“Há uma resistência por parte da prefeitura para discutir o meio ambiente, que deveria estar dentro do plano diretor que está sendo elaborado”, salientou Marcelo. “Você não pode colocar suas ideias, contra-argumentar, há uma limitação. Tentei participar do plano de mobilidade urbana que foi aprovado em 2019 e fui atropelado. A mobilidade urbana também tem a ver com meio ambiente. Foi feito um plano que não tem plano.”

Ele fez críticas também à atuação da Câmara Municipal, que tem adotado uma postura, na sua avaliação, muito passiva em relação às questões ambientais, em especial na aprovação da ampliação do perímetro urbano sem estudo de impacto ambiental.

“Os vereadores aceitam tudo. O vereador aprovou a expansão do perímetro urbano, dizendo que o loteamento é outra história, então, como já sabiam que vão construir 52 lotes na área expandida?”, questionou.

O programa debateu algumas questões pontuais, como a intenção da prefeitura de asfaltar o caminho que leva até o topo do Alto da Serra, um dos pontos turísticos mais visitados do município. “Se é a montanha mais alta do município, tem de ser então ela tem de ser respeitada como um lugar sagrado”, salientou o engenheiro.

Ele lembrou que o excesso de visitantes e de carros, além da música alta no Alto da Serra, são questões que precisam ser ponderadas pelo poder público. “A experiência nesses lugares faz bem, então será que tem de fazer o asfalto até lá em cima, será que tem de ir de carro lá em cima, tem de ter música alta... Vamos reverenciar aquele lugar”, afirmou.

Assista a seguir à íntegra do programa:




Comentários

  1. Duas afirmações dão a medida exata de como o meio ambiente é - e provavelmente continuará sendo - tratado por "nossas autoridades".

    Úma é do Prancha, com o qual compartilho a incredulidade de que algo vá mudar concretamente: "Sou meio incrédulo com essa questão, porque já decidiram que Serra Negra é uma cidade de negócios e o que interessa é criar loteamentos, espaços onde a natureza e a riqueza principal, que é a água e o meio ambiente, não interessam para eles, que consideram os impostos e o IPTU mais interessantes para a arrecadação”.

    A outra é do engenheiro Marcelo de Souza: "“Os vereadores aceitam tudo. O vereador aprovou a expansão do perímetro urbano, dizendo que o loteamento é outra história, então, como já sabiam que vão construir 52 lotes na área expandida?" E, complementando, sobre o Alto da Serra: “Se é a montanha mais alta do município, tem de ser então ela tem de ser respeitada como um lugar sagrado. A experiência nesses lugares faz bem, então será que tem de fazer o asfalto até lá em cima, será que tem de ir de carro lá em cima, tem de ter música alta... Vamos reverenciar aquele lugar”

    Há muita confusão entre os termos progresso e desenvolvimento: o primeiro beneficia poucos sem levar em consideração os interesses da maioria; o segundo faz essa exatamente o contrário, leva em consideração os interesses de melhor qualidade de vida da população, em todos os seus segmentos, em detrimento dos interesses minoritários.

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