//ANÁLISE// Chiclete com leite conden$ado

                                                                                                             


Fernando Pesciotta


Pela primeira vez na história, o Portal da Transparência, criado pelo governo Lula em 2004, foi tirado do ar no final da noite de terça-feira (26) e ficou por quase dez horas inacessível.

Como o próprio nome diz, o portal objetiva dar transparência aos gastos do governo federal em todas as suas instâncias. Pode ser entendido, portanto, como uma prestação de contas ao cidadão e ao contribuinte.

O portal saiu do ar depois que o site Metrópole descobriu e divulgou gastos de R$ 1,8 bilhão do governo de Jair Bolsonaro com batatinha frita, chicletes, alfafa, leite condensado e outros “alimentos”, além de vinhos.

Partidos e parlamentares pedem ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que investigue o caso. Em plena pandemia, os gastos do governo Bolsonaro com supérfluos foi 20% maior do que em 2019, com claros sinais de superfaturamento.

O Twitter contabilizava na manhã desta quarta-feira (27) quase 600 mil posts sobre o assunto. Uma embalagem de Leite Moça com a foto de Bolsonaro virou meme.

“A pedidos: uma receita de leite condensado caseiro, pra você fazer ao invés de gastar 15 milhões comprando”, ironiza post da apresentadora Ana Maria Braga. Acumula 330 mil interações.

Usuários também fizeram graça com o valor de cada produto. Conforme nota fiscal emitida pela microempresa Saúde & Vida Comercial de Alimentos Eireli, o Comando do Exército, por exemplo, pagou R$ 162 em cada caixa de 395 gramas de leite condensado. Em média, o produto custa R$ 6,50 no mercado de Serra Negra ou de qualquer cidade do Brasil. Para o governo Bolsonaro a caixa custa 2.500% a mais.

O total gasto com leite condensado é de R$ 15,6 milhões, o que daria para comprar 18 sítios de Atibaia que se atribui a Lula. Outros R$ 2,5 milhões foram gastos na compra de gomas de mascar. O dinheiro “aplicado” em chicletes daria para comprar seis tríplex do Guarujá que se atribui a Lula.

Gastar milhões com alfafa ainda dá para entender. Mas Bolsonaro gasta mais com leite condensado e chiclete do que com a proteção da Amazônia, mais do que o total de investimento em pesquisas. Os chicletes poderiam ser trocados por milhares de tubos de oxigênio.

As despesas ainda incluem coisas como R$ 4,5 milhões em água de coco, R$ 14,8 milhões em temperos, R$ 6,7 milhões em chuchu. Tudo sem licitação.

Quando estava nas profundezas da Câmara dos Deputados, Bolsonaro foi pego com uma nota fiscal de milhares de litros de gasolina para o contribuinte pagar. Pelo visto, criou uma cultura.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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