//ANÁLISE// General fala do golpe contra Dilma

                                                           


Fernando Pesciotta


Em livro recém-lançado, Michel Temer revela que entre 2015 e 2016 ele se reuniu com os generais Eduardo Villas-Boas, então comandante do Exército, e Sérgio Etchegoyen, chefe do Estado-Maior da Força. Os encontros teriam servido para preparar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Etchegoyen, agora, nega as acusações de que esses encontros fizeram parte de articulações políticas contra o governo. Mas reforça as críticas ao PT que teriam motivado os militares a ajudar a derrubar o governo.

Em entrevista ao UOL, ele confirma a contrariedade dos generais com a Comissão Nacional da Verdade, que investigou violações dos direitos humanos durante a ditadura militar.

A afirmação ajuda a entender a grande resistência que os petistas passaram a ter entre os comandantes militares por investigar seus crimes. No fundo, os militares não aceitavam ser comandados por uma presidenta que havia sido torturada por eles. Não aceitavam a investigação de seus crimes bárbaros.

Os militares também não gostaram da pretensão de Dilma de mudar a forma das promoções nas Forças Armadas, dando-lhes mais profissionalismo. Querem manter o compadrio.

“Isolaram os militares, desrespeitaram-nos, encenaram uma Comissão da Verdade claramente vingativa, afrontaram a lei para usurpar competências claras dos comandantes. O governo nunca nos procurou, ao contrário de muitas outras lideranças da época, não só o Temer, inclusive parlamentares da base de apoio do governo”, tenta explicar Etchegoyen.

Como se vê, os militares agiram para apoiar o golpe contra Dilma mais por causa de seus acertos do que por eventuais erros. Agiram em nome de uma força acostumada ao apadrinhamento, apegada ao poder, absolutamente politizada, nada profissional e totalmente preguiçosa.

Alguém já ouviu um militar americano reclamar que o governo não lhe ouve?

Falácia conservadora

O bolsonarismo ganhou a eleição em 2018 por várias razões. Entre elas, por ter apostado num discurso falacioso que Celso Russomano promete intensificar nos próximos dias em São Paulo.

Numa alusão aos protestos de direita que levaram ao golpe contra Dilma e à eleição da extrema-direita, ele diz compartilhar dos mesmos valores “conservadores, da família e da liberdade”.

Ele mente, assim como a direita e os conservadores mentem para você. Usam falácias para te enganar. O conservadorismo nunca foi sinônimo de liberalismo ou de liberdade no Brasil.

Ao contrário, são inúmeros os exemplos de que o conservadorismo brasileiro é escravocrata, doutrinador e censor de pensamentos e das liberdades individuais.

O conservadorismo brasileiro quer ditar o que você deve ou não pensar, fazer e sonhar.

Na economia, exige um Estado que seja pai dos mais ricos e disponha uma sociedade desigual que favoreça o emprego barato. Nunca defendeu a liberdade de ascensão social, em tese a âncora do conservadorismo liberal norte-americano.

 
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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