//NEGÓCIOS// Supermercados ignoram crise e até contratam


  

Fátima Fernandes


Em meio à maior crise sanitária e econômica vivida pelo país, um indicador positivo aparece em um dos setores que mais sofreram com a pandemia do novo coronavírus: o varejo.

Em julho, o saldo entre contratações e demissões no comércio brasileiro foi positivo em 19.344 vagas, após o fechamento de 376.566 postos de trabalho de março a junho.

Os números foram levantados por Fábio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), com base em dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

De dez setores considerados do varejo, seis fecharam julho com números positivos, de acordo com informações do Ministério do Trabalho, considerando as mesmas categorias da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), do IBGE.

O setor de hipermercados e supermercados foi o que mais abriu vagas em julho, 10.597, seguido por material de construção (7.626) e artigos de uso pessoal e doméstico (5.166).

Também houve contratações nas farmácias e perfumarias (1.877), concessionárias de veículos (1.056) e em lojas de móveis e eletrodomésticos (777).

O varejo de tecidos, vestuário e calçados continuou demitindo (6.369) em julho, assim como o de combustíveis (926), livrarias e papelarias (343) e produtos de informática (117).

No Estado de São Paulo, foram criadas 4.213 vagas em julho (21% do total do país), após fechamento de 118.173 postos de trabalho de março a junho.

Os lojistas torcem para que o saldo entre contratações e demissões passe a ser sempre positivo a partir de agora e em todas as categorias do comércio.

“O que é possível afirmar é que o varejo físico e o eletrônico deverão ter realidades distintas daqui para a frente”, diz Bentes.

O e-commerce está crescendo 40% em relação a 2019, de acordo com algumas empresas. “Os lojistas de shoppings já estão desesperados e tendo de devolver o ponto.”

Apesar do bom desempenho do varejo eletrônico durante a pandemia, diz ele, vale lembrar que o e-commerce não tem grande potencial para a geração de vagas como o varejo físico.

A melhoria nos dados do emprego no varejo em julho, portanto, de acordo com Bentes, tem limite e, certamente, vai depender da recuperação da atividade econômica.

Até agora, os indicadores não são nada animadores.

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu 9,7% no segundo trimestre deste ano em relação ao primeiro e 11,4% na comparação com igual período de 2014.

O tombo entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, devido aos efeitos da pandemia do novo coronavírus, é o maior desde o início da seria histórica do IBGE, em 1996.

Ainda assim, apesar de todo o impacto da pandemia, alguns setores do varejo continuam indo bem, como o de supermercados.

Com 1.700 empregados, a rede Veran, com sede em Suzano, interior de São Paulo, registra vendas acima de igual período do ano passado desde a segunda quinzena de março.

E, neste momento, está em fase de contratação de dois gerentes. Um para a área de marketing e outro para o setor de gerenciamento de categorias.

Um profissional que tocava o e-commerce e o departamento de marketing ficará agora responsável somente pela venda online, que está em expansão.

A empresa, que tem 13 lojas na região do Alto Tietê, também admitiu outras 15 pessoas para cuidar exclusivamente da promoção do cartão de crédito Veran, criado em 2013.

Sandro Benelli, presidente da rede, diz que não houve demissões na empresa e que está fácil achar bons profissionais da área de varejo no mercado.

“Com a crise, as empresas pararam de contratar ou demitiram, por isso há sobra de gente boa no mercado”, diz ele.

Os salários dos dois gerentes, em fase de contratação, estão na casa de dois dígitos.

Quem for atrás de vagas no comércio pelo Google vai ver que há ofertas para profissionais, principalmente especializados em atacado e varejo.

O atacadista Roldão, por exemplo, anuncia que tem vaga para líder do setor de perecíveis.

Empresas que trabalham com a recolocação de profissionais também anunciam postos para comprador de atacado e varejo, gerente e fiscal de loja e especialista digital.

Varejo da construção

O varejo de material de construção, que também registra aumento de vendas, é outro que tem vagas para preencher.

A rede Telhanorte anunciava, há cerca de um mês, vagas para assessor e atendente de loja, operador de caixa e atendimento ao cliente, operador de empilhadeira e designer projetista.

De abril a agosto, as redes Telhanorte e Tumelero, que pertencem ao mesmo grupo, realizaram 214 contratações, das quais 30% foram para novas vagas.

As admissões foram feitas para centros de distribuição, lojas físicas e e-commerce das duas empresas.

O varejo de material de construção foi um dos mais bem-sucedidos durante a fase mais crítica da pandemia, já que os consumidores foram forçados a ficar em casa.

Na Telhanorte, as vendas de produtos para jardinagem subiram 70% de março a julho deste ano em relação a igual período de 2019.

As vendas de produtos para organização e decoração aumentaram 65%, de elétrica, 40%, e de ferramentas, 45%, no período, de acordo com a empresa.

No mês de julho, a Telhanorte registrou recorde de vendas para o mês: aumento 25% maior do que o de igual mês de 2019.

As vendas online da rede triplicaram desde o início da pandemia, de acordo com informações da assessoria de imprensa da empresa.

Mesmo que o saldo de demissões e contratações no varejo seja positivo daqui para a frente, o setor não deve recuperar o fechamento de vagas que aconteceu nos últimos meses, de acordo com Bentes, da CNC.

De janeiro a julho, o varejo brasileiro eliminou pouco mais de 432 mil empregos, uma das maiores perdas de posto de trabalho dos últimos anos.

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Fátima Fernandes é jornalista especializada em economia, negócios e varejo e editora do site Varejo em Dia.

Reportagem originalmente publicada no Diário do Comércio.

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