//ANÁLISE// As fraquezas de Bolsonaro

                              


Fernando Pesciotta


Jair Bolsonaro visitou Mato Grosso no final da semana passada. Foi prestigiar os fazendeiros que têm tocado fogo na floresta e no Pantanal.

Aproveitou a seleta plateia para mais uma vez minimizar os efeitos da Covid-19, que até este domingo, 20 de setembro, matou quase 137 mil brasileiros.

“Vocês não pararam durante a pandemia. Vocês não entraram na conversinha mole de ‘fica em casa’. Isso é para os fracos”, disse, com profunda sabedoria.

O deboche com os parentes dos quase 140 mil mortos – nesta semana, orgulhosamente vamos ultrapassar esta marca – e os milhões que ficaram com sequelas da doença é natural de um covarde, e revolta os indignados.

Diria que fracos são aqueles que fogem do debate. Fracos são aqueles que se escondem atrás de mentiras, que criam gabinete de fake news, dentro do palácio do governo e pago com dinheiro do contribuinte. Fracos são aqueles que vivem do submundo da criminalidade das milícias. Fracos são os que defendem a morte e a tortura e instrumentalizam o ódio.

Fracos também são aqueles presidentes que não têm a menor ideia do que estão fazendo no cargo, que assistem ao crescimento do desemprego, ignoram as necessidades da saúde, forjam dados estatísticos e mandam acabar com a educação. Fracos são aqueles que se elegem defendendo a tese fácil de que programa social é patrocínio de vagabundos.

Em vez do discurso idiota, Bolsonaro deveria se preocupar com a realidade. A volta das pessoas às ruas, depois da quarentena mais severa, faz crescer o total der desempregados no País. Em agosto, 1,1 milhão de brasileiros procuraram e não encontraram trabalho.

O contingente de desocupados passou para 14,3%, recorde deste ano. Sem falar naqueles que nem procuram mais emprego, dentro da chamada faixa de desalento, o que leva o total de desocupados para 40% da população economicamente ativa.

As previsões dos especialistas são de piora nos próximos meses, a não ser que a economia dê um inesperado salto de recuperação.

Semana da vergonha

Bolsonaro fará o discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira, 22 de setembro. Nos fará passar vergonha perante o mundo. Ele recorrerá, naturalmente, às mentiras.

O discurso visa apresentar ao mundo um cenário inexistente. Para se defender das queimadas na Amazônia e no Pantanal, dirá que há uma perseguição contra o Brasil.

Com relação à pandemia e os quase 140 mil mortos, vai dizer que seu governo de forma acertada adotou diretrizes contrárias às recomendações de autoridades sanitárias. Em sua mente delirante, o Brasil foi um dos países que melhor enfrentaram a crise.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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