//OPINIÃO// A euforia e os meses que virão


Carlos Motta

Serra Negra vive dias de euforia, que estavam ausentes desde há um bom tempo. Os turistas estão vindo aos milhares, os bares e restaurantes do Centro se encontram sempre cheios, as pessoas circulam pela Rua Coronel Pedro Penteado carregando sacolas pesadas, os hotéis não têm vagas... 

Há música no ar, o frio ao mesmo tempo castiga os corpos e alivia as almas dos serranos, que vivem, sobrevivem e dependem quase exclusivamente das moedas que trazem para cá os visitantes, que andavam sumidos poucos dias atrás.

Há várias razões para a cidade estar passando por esta festa. 

Uma delas é que o frio veio forte este ano - e quando a temperatura baixa, o cidadão comum que entra em férias, acredita, sabe-se lá por quais razões, que a montanha é o lugar ideal para seu descanso. 

Sorte de Serra Negra.

Outro motivo é o fato de que a prefeitura investiu em publicidade e marketing, mostrou para as pessoas que este era um bom destino para as férias, para os fins de semana gelados ou mesmo para um bate-volta para compras, um passeio rápido e um bom e barato almoço.

Está dando certo e isso é ótimo para os serranos.

O problema é que sempre há um problema.

No caso de Serra Negra, eles são vários: as férias de julho estão terminando, o frio polar não vai persistir e, sobretudo, a situação econômica do país continua estagnada, sem indicação de que haja uma recuperação à vista - ao contrário, os prognósticos dos pesquisadores sérios preveem um futuro ainda mais sombrio para a grande maioria dos brasileiros.

O governo federal - se é que se pode chamar aquilo lá em Brasília de governo - a cada dia renova seu desejo de destruição de tudo o que manteve o Brasil em pé até hoje. Estamos assistindo, impávidos, ao fim da previdência social, saúde e educação universais, à destruição dos bancos públicos (Banco do Brasil, CEF, BNDES), à extinção dos programas sociais que permitem a sobrevivência de dezenas de milhões de pessoas, à entrega do patrimônio público duramente construído ao longo de nossa história, ao desmonte das instituições de pesquisa, ao desmonte, enfim, do Estado de bem-estar social que se construía a partir da Constituição de 1988.

O resultado de toda essa insanidade é claro como as manhãs desta Serra Negra reluzente ao sol de inverno - o empobrecimento da população brasileira, seja pela queda direta do poder aquisitivo, imposta pelas "novas" leis trabalhistas, seja pelo alto nível de desemprego causado pela ausência de políticas econômicas anticíclicas, seja pelas consequências absolutamente previsíveis de uma reforma da previdência social que retira mais dinheiro dos mais pobres. 

Mas vamos voltar a Serra Negra. 

Agosto está aí. E setembro, outubro, novembro...

São os meses em que os turistas se ausentam da cidade, à espera do fim do ano. 

São quatro meses de seca.

E apenas a perspectiva de que Papai-Noel seja generoso no Natal.

Passar por esses meses pode se tornar uma agonia - ou, se o Poder Público se empenhar em achar soluções para o dilema, uma travessia normalíssima, sem contratempos.

Não é possível a este modesto escriba, por suas próprias limitações, apresentar fórmulas complexas para que tal ocorra. No lugar delas, porém, até por dever cívico, aí vão algumas singelas sugestões para que Serra Negra consiga atrair visitantes o ano todo e assim permitir que o seu caixa não sofra surpresas desagradáveis e permita proporcionar aos seus moradores o conforto mínimo merecido:

@ Preparar um calendário anual de eventos, com pelo menos uma grande atração por mês (festivais de verão, inverno, café, queijo, vinho, cachaça, feiras de moda, por exemplo);

@ Organizar rotas turísticas (café, queijo, vinho, cachaça etc);

@ Divulgar ao máximo as atividades do Clube de Voo Livre e os passeios do balão a ar quente;

@ Divulgar as vantagens de fazer compras no comércio local, destacando alta qualidade e preços baixos;

@ Divulgar a disponibilidade da rede hoteleira (preços para todos os bolsos);

@ Divulgar a culinária local (qualidade, variedade e preços);

@ Dinamizar o Centro de Convenções a fim de que ele se torne uma referência no interior do Estado para a realização de encontro diversos, feiras, exposições e apresentações artísticas;

@ Reabrir o balneário existente no Centro de Convenções;

@ Investir na modernização e manutenção de praças, parques e demais pontos de atração turística;

@ Instituir um programa para facilitar e incentivar apresentações de músicos nas ruas e praças; 

@ Montar uma equipe profissional para prospectar investidores para o setor turístico da cidade.

São apenas algumas ideias. Como existem várias outras ainda melhores. O importante é que todas sejam debatidas seriamente, pois o momento atual exige seriedade, ousadia e criatividade.

Comentários

  1. Esclarecer aos nossos comerciantes menos inteligentes que seis da tarde não é horário para fechar seus estabelecimentos, enquanto milhares de turistas ficam a ver navios ...

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