//CRÔNICA// O que gosto e não gosto na cidade

A cidade, vista do terraço do meu apartamento

Carlos Motta

Cinco anos e alguns meses depois de me mudar para Serra Negra, deixando para trás uma vida de trabalho estressante em redações dos ditos "grandes" jornais, já dá para dizer que o ritmo do dia a dia se alterou completamente, assim como o relacionamento com outras pessoas e mesmo o entendimento do que é o mundo. O que me leva a pensar: será que o homem é capaz de mudar tanto?

Essa e outras questões são, porém, dignas de um tratado mais profundo, muito além da capacidade de um mero batucador de teclado - antigamente dizia-se "datilógrafo"... Quem sabe algum dia me volte inteiramente à minha consciência e busque em seu âmago respostas para tais dúvidas, respostas que certamente serão incompletas.

Por enquanto recolho-me à minha insignificância e me atenho a temas mais banais. Um deles, que creio de interesse para a coletividade na qual me intrometi, é destacar o que mais me agrada e desagrada nela.

Deixo claro que tal relação é trivial, lembranças impressionistas de experiências cotidianas. Um retrato de um cronista despreocupado, enfim.

A lista serve, entretanto, para que eu me situe numa sociedade que descubro um pouco mais a cada dia, com idiossincrasias que desconhecia, além de um ritmo próprio, anos-luz distante daquele que me guiou a maior parte de minha existência.

Ainda inconclusa, aí vai ela:

O que mais gosto em Serra Negra

@ Custo de vida mais baixo que o de cidades maiores;

@ Simpatia dos atendentes do comércio - garçons e caixas de supermercado, principalmente;

@ Variedade de queijos nas lojas da Rua Coronel Pedro Penteado;

@ O parque represa Dr. Jovino Silveira e a represa Santa Lídia;

@ Andar pela Rua Coronel Pedro Penteado;

@ Passear à noite a pé pelo Centro;

@ Tomar café com pão na chapa no Bar Santos;

@ Café de coador e o Café da Montanha;

@ Pizza do Chopp 40;

@ Sanduíche do Café do Barulho;

@ Salada do D'Jones;

@ Self service do Hotel Vitória Marchi;

@ A tranquilidade das praças;

@ A cidade vista do meu apartamento;

@ Encontrar e conversar com conhecidos na rua;

@ Pegar água nas fontes;

@ Respeito à faixa de pedestres;

@ O barulho dos pássaros de manhã, o pio das corujas à noite;

@ O silêncio na maior parte do dia;

@ A Banda Lira tocando na Praça João Zelante.

O que não gosto em Serra Negra

@ Televisão dos restaurantes ligada na Globo a qualquer hora;

@ Motoristas apressados/descuidados;

@ Restaurantes com cardápio praticamente igual;

@ Religiosidade excessiva;

@ Política ainda na base do coronelismo;

@ Desrespeito à faixa de pedestres;

@ 81% de votos no Demente do Planalto;

@ Votos de congratulações dos vereadores para as coisas mais triviais do planeta;

@ Food Trucks na Praça Sesquicentenário;

@ Multidão no Alto da Serra.

Claro que tem mais do que gosto e não gosto. Mas isso foi o que lembrei. E, para quem acha que fui injusto, preconceituoso ou apenas tolo, vale aquela máxima: "Gosto não se discute - lamenta-se."